quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Impasses que interferem no sentido e na celebração do Natal.




O Natal do Senhor, assim como a ressurreição de Jesus, é um dos momentos celebrativos mais culminantes da Liturgia de Nossa Igreja. Na temática passada vimos alguns elementos constitutivos e característicos do Natal de Jesus, que somos convidados a celebrar, como a entrada de Jesus na história, a revelação de Deus-menino, as esperanças trazidas por Jesus, a confirmação da Fé e o testemunho vivo do cristo em nosso meio. Hoje vamos colocar em consideração algumas coisas que dificultam a boa celebração do Natal, ou distanciam o homem do verdadeiro sentido do Natal. Esses elementos negativos do Natal são característicos do desenvolvimento radical e não desacerbado do homem na história e de seu desvio da meta na qual ele é chamado a viver por Deus.

Assim, os fatores negativos que promove ruídos na vivência do Natal são de ordem econômica, política, espiritual e moral. São eles : 1) o capitalismo radicalizado; 2) o sistema governamental laico; 3) a alienação religiosa; 4) a crise moral; 5) e a cultura anti-cultura. Todos esses pontos são observados e destacado pela falta de maturidade e a desvalorização do que há de mais primitivo e essencial na natureza humana: a vida, a dignidade de humano e sua Fé Cristológica.

1)      o capitalismo radicalizado: pólos opostos e inpreparados  para vinda de Jesus

A modernidade trousse para o homem uma produção industrial muito valiosa. Com a bússola, os livros, e a tecnologia primária o homem chegou a horizontes nunca antes visto. A América é um exemplo disso. Assim a modernidade desenvolveu relações comerciais e tecnológica, através da exploração das camadas sociais inferiores e pobres (mulher, crianças, idosos, escravos) e produziu um bom aparato comercial. O desenvolvimento na produção do mercado comercial, a instauração de lucro (à custa do trabalho não-pago) promoveu o que chamamos de capitalismo.

Esse sistema tendia a promover a evolução econômica de uma parcela da camada populacional. Aos poucos a tecnologia foi tomando conta de nosso mundo. Os sistemas de escravidão e exploração passou a chamar-se de emprego, porém boa parcela da população tinha acesso a tecnologia. A televisão, o rádio, dentre outros elementos constitutivos da explosão tecnológica, passou a fazer parte de nossa vida. Evoluímos muito em questões econômicas e tecnológicas, porém regredimos em questões humanas. O homem é observado como um meio econômico, como uma peça (descartável) que tem a utilidade de promover capital (lucro). O sentido do ser- humano aos poucos foi se perdendo até a contemporaneidade.

 É claro, algumas empresas promoveram assistência psico-social para resgatar o valor do homem-pessoa, enquanto funcionário da empresa, porém as relações de recursos humanos estão prioritariamente trabalhando o homem e destacando suas potencialidades e importância em função da promoção e desenvolvimento da empresa, e não do trabalhador. Sem termos noção do que estava acontecendo, a humanidade absolveu esse sistema a tal ponto de todas as suas relações sociais, amorosa, moral e política, estarem pautada sob a economia. Pensamos e agimos de modo econômico. Os amigos que estão em ascensão econômica, ou de cargo de trabalho, muitas vezes tem mais valor do que os pobres, ou os que estão na última classe econômica. Enquanto muitos têm pouco, poucos têm muito. Os interesses passaram a ser de bens de valor. A natureza é explorada e poucas são as pessoas que tentam promover de fato um desenvolvimento ecológico, mas isso não promove lucro, então pouco se faz, apesar de muito se falar.

Nesse sistema capitalista existe uma falha que está nos dois pólos de sua economia (a escassez e a super abundância). Os dois extremos prejudicam de modo fortíssimo a vivência do natal de Jesus. Em um Jesus e a esperança de Jesus se faz necessária e urgente, em outro reclama por uma efetivação da vontade de Deus, porém os dois pólos não estão preparados para o nascimento de Jesus, apesar de se fazerem necessitantes. De modo simplista, em quanto na mesa do pobre, pouco tem para promover o encontro fraterno entre famílias com o menino Jesus, com a promoção da esperança de vida feliz plena (e neste local ocorre forte mente o grito do Cristo que é carente de tudo), com a dignidade da pessoa humana, de seus valores enquanto cristão, em outros lugares existe uma super-abundância de bens materiais, que denotam a inutilidades de muitos objetos, de muitos bens para o verdadeiro valor do Natal. Neste caso o espaço e a situação econômica, muito mais prejudicam a identidade e unidade e encontro pleno com o Menino Jesus, que nasceu numa estribaria (curral de cavalos) do que denota uma verdadeira celebração do nascimento de Cristo-Menino. Neste sentido a crítica se dá pelo fato de enquanto nos cantos escassos economicamente se situar uma injustiça, exploração e déficit na disposição e valor do homem para se ter uma digna e verdadeira celebração do nascimento das esperanças de felicidade plena do menino nazareno, em outros locais muito se tem em bens, em objetos, em material, e muito se perde no verdadeiro encontro de um Jesus desprendido de coisas passageiras. Portanto, a disposição de celebração do Natal, e daquilo que tudo de fundamental e necessário promove a vinda do menino Jesus, nesses dois espaços são pouco aproveitadas, daí a necessidade de um profeta, do verdadeiro sentido do Natal.

2)      o sistema governamental laico

Com a separação do estado com a Igreja suas relações passaram a ser de pura diplomacia e seus objetivos distintos. Enquanto que na Igreja se fala de um reino de paz, de amor, de partilha, de fraternidade e unidade como irmãos( apesar de nela está inserida seu caráter de Igreja falha, pois movidas por mão humanas); enquanto nossa Igreja se preocupa em ser um efetivo indicador de Jesus como nosso salvador, porta para o encontro com Deus; enquanto ela promove ações sociais para manutenção da vida de muitas pessoas carentes, e ao mesmo tempo mantém uma relação de compromisso com suas instituições sociais, o estado, por sua vez, tenta promover a manutenção sócio-política do povo. Assistências sociais como educação, moradia, cidadania, distribuição de empregos, dentre outras coisas são atividades promotora do estado. Essa cisão do setor antropológico do religioso limitou a ação da Igreja, e por outro lado excluiu aos poucos o caráter religioso das instituições seculares.  Neste sentido a difusão e promoção de outras morais, a preocupação do aspecto econômico em primeiro plano e a gerencia de governo pautado por legislações hierárquicas, a tal ponto de monopolizar a distribuição de renda e cargos vitalícios, são contributos do estado. Assim, a regência do estado está promovendo outras coisas de caráter ontológico, porém que pouco direciona o homem contemporâneo para a sua essência. Enquanto natureza, o homem é essencialmente religioso, e enquanto seguidor de Cristo, o homem é essencialmente Cristão. Neste sentido, sua felicidade está não só no plano antropológico, mas faz parte de um itinerário transcendente. Se o estado não é religioso, e nem tem a função de promover aquilo que é essencialmente humano, então o natal do Senhor não está dentro de sua preocupação de regência, muito menos no intento da promoção religiosa. Neste sentido pouco se estimula uma disposição moral, política e social na área parcial da natureza humana: sua religiosidade cristã. As lacunas do estado, na tentativa de promover um desenvolvimento do homem em sua totalidade, são inevitáveis!E a disposição para o verdadeiro encontro e aderência as esperanças do menino Jesus pouco, pra não dizer nada, se realiza pelo estado.

3)      a alienação religiosa

No aspecto religioso estamos diante de alguns problemas quanto a forma religioso- cristão de se obter uma maturidade de fé, e uma espiritualidade clara e evidente que promova um efetivo e proveitoso encontro natalino com Jesus. Durante a história de nossa Igreja tivemos diversas camadas religiosas que promoveram diversas diretrizes acerca do modo de se compreender e expressar a revelação divina no seu aspecto mais original e fundamental. Várias foram às correntes que se desenvolveram no interior de nossa Igreja, porém, na maioria das vezes muitas delas entraram num radicalismo completo. Cito aqui duas correntes atuais que ainda hoje tanto são extremistas como exploram aspectos diferenciais do mesmo Jesus: A Teologia Libertária e a Renovação Carismática. Essas duas correntes internas de nossa Igreja se identificaram com seu viés de experiência e expressão de Deus, na sua linha particular religiosa de tal forma que, em muitos casos, excluíam, ou não participavam de outros eventos ou movimentos que não tivessem o seu caráter pessoal de identidade. Assim a Teologia da Libertação fez uma escolha preferencial pelos pobres de modo radical, que sua forma de anuncio de Jesus passava a ser um Jesus que se identificava com os pobres e lutavam pelos mesmos. Em muitos casos essa corrente não focava em outros fatores determinantes da espiritualidade religiosa da Igreja como um todo. Muitas vezes se esqueciam que os ricos também são chamados a participar do Reino de Deus. Em determinado sentido, essa correte tinha uma espiritualidade promotora do seu espaço de luta, delimitando a mensagem salvífica de Deus. Suas alas radicais mais se inclinavam para uma exigência social e política, do que um momento de abertura para o contato introspectivo com Deus. Na renovação Carismática o oposto se fazia: a consciência crítica e de luta era pouco explanada, a expressão de fé mais parecia uma espiritualidade limitada pela ação do Espírito Santo e o valor da oração (destaco também um tipo diferencial de oração que valorizava mais uns do que outros) era algo principal e primordial na vida do religioso. Esse radicalismo espiritual deixava a desejar outros fatores essenciais humanos como o valor da dignidade do homem enquanto homem-participante deste mundo e a luta por uma vida digna em locais de extrema pobreza. A fé é o forte desta corrente, porém o que não concorresse para essa identidade era visto de modo excluso por esta corrente. Inclusive alguns aspectos que são essenciais da natureza humana. Contudo, essas duas correntes, e existem muitas outras, mas destaco as mais conhecidas, são formas extremistas de observar a face de Jesus. Neste sentido, qualquer radicalismo tende a um erro, tanto no assertivo contato como o natal de Jesus, quanto na promoção da boa nova de Jesus. Contudo, é relevante cita outros movimentos que pouca postura clarificante tem diante do mistério natalino. Algumas correntes ou movimentos religiosos se prendem as aparições divinas, o caso não é que são verdadeiras ou não, reais ou falsas, mas pelo fato de ser o objeto determinante e exclusivo da motivação e ação religiosa. Jesus fez milagres para cumprir o que estava contido nas palavras dos profetas, mas o verdadeiro sentido da fé está na tentativa de unidade com Deus e no valor da dignidade do homem enquanto natureza conformada pelo menino Jesus. Outro fator que mais torna confuso o entendimento e a aderência ao projeto de Jesus instaurado pelo seu Natal é a mistura de religiões, o sincretismo religioso é algo que contribui e atrapalha o verdadeiro sentido do Natal de Jesus. Na verdade mais atrapalha que contribui. Em muitos momentos não se sabe se Jesus é observado como o filho de Deus, como o salvador do mundo ou como mais um deus de culto divino. Os elementos indicativos do Natal são misturados a outros elementos a tal ponto de se perder o sentido essencial natalino. A mistura do fato religioso das aparições como outros elementos místicos pagão, ou cosmológicos, ou de cultura afro abrasileirada numa mistura entre o consciente e inconsciente são fatores que mais complicam do que esclarecem acerca do entendimento da espiritualidade natalina.

4)      a crise moral

Com a transição da modernidade para os tempos atuais a globalização promoveu um contato efetivo entre os diversos países.  A intercomunicação, a intercomercialização, dentre outros inter, foram as bases para tornar a visão do mudo mais unitária e complexa. Antes a visão de mundo e sua disposição moral estavam determinadas pelos limites territoriais de um povo. Nos países circo-vizinhos da Itália, na modernidade a visão exata e objetiva do homem passou a ser os elementos determinantes do comportamento humano. A visão individual passou a entrar na noção de homem. Neste sentido, a moral se diferenciou em sua definição pelo seu aspecto de extensão. Assim, a visão dos indivíduos sobre si, os valores que ele mesmo se identifica são concebidos como fatores de destaque do estudo da ética. Neste sentido a ética é os valores, hábitos, costumes inseridos nos indivíduos que caracteriza sua personalidade. A ética está no âmbito pessoal, pois não se determina em função da sociedade, mas do ego humano. Já a moral fixou-se como aspectos de um povo, ou comunidade, aquilo que define seu caráter de ser, aquilo que está contida nos seus valores que por convenção se tornou universal. Portanto, a moral está no âmbito de comportamento, de valos, de cultura de um povo. A globalização tornou a relação intrínseca entre as diversas morais que tanto o conflito, o choque, de morais como a mescla de suas diversidade moral foi inevitável. O intercambio comercial, tornou-se um intercambio moral, daí o conflito ocorreu.  Conforme foi se aprimorando o capitalismo as relações internacionais seguiram a mesma lógica. A migração tornou outras morais próximas, o contato com culturas e valores distintos e múltiplos tendenciaram ao que conhecemos como relativismo. Daí como se vê no Brasil, existe uma pluralidade de morais que subsiste no nosso país. O cristianismo tem uma moral que foi embutida no Brasil, antes do Brasil ser Brasil. Isso se deu pelos Portugueses (além dos Franceses, Ingleses...) pelo encontro e invasão de novas terras: América. Com eles inseriu-se o cristianismo aqui. As culturas, e religiões que tinham passaram a ser ignoradas, se não massacradas, porém aqui ficou uma mescla de elementos morais cristãos com outros.  Digamos que mesmo assim, a moral cristã era forte, portanto predominante. Com a migração e o intercambio comercial, com a laicização do estado, o capitalismo e a pluralidade de morais, que se formaram e se reformaram a moral cristã passou a ser questionada e descartada ao plano de menor importância. O povo essencialmente é cristão, ou tem valores que são da moral cristã, porém o envolvimento e a relação com outros valores e morais diversas, fazem o sentido do Cristianismo está perdendo sua força. O Brasil é um país festeiro, as questões econômicas estão inserida no seu sistema de valores, os valores antigos não se sustentam e tudo está entrando em crise e num relativismo. É constante ouvirmos as pessoas dizerem: “os tempos agora estão diferentes! Diante disso, a promoção da boa nova acaba seguindo o mesmo caminho, quer queiramos quer não. Uma norma, ou regência de governo permanece quanto todos, ou pelo menos a maioria, a aceitam e a mantém. Porém, como o conflito de morais, com as crises, a sustentação se torna sofrível. Daí, muitas vezes se insere uma moral fantasma: só se fala que se deve ser assim, se deve agir assim, mas que na verdade poucos fazem. Esses fatores são imprescindíveis para o entendimento de como se está celebrando o natal do Senhor. Pois como a variação de valores, com as crises morais, o ambiente pouco está preparado, apesar de muito necessitado, para a inserção da esperança que renasce. Vale salientar que o natal é celebrado, porém que neste sistema que estamos é pouco vivido e continuado.

5)      a cultura anti-cultural-religiosa

Atualmente, querendo ou não, a cultura brasileira interfere de certo modo no verdadeiro sentido e valor do Natal do Senhor. Com o desenvolvimento tecnológico, as culturas tornaram-se institucionais. O valor humanitário, o espírito de unidade e fraternidade que se tinham nas culturas foram ficando para trás. A técnica entrou no espaço cultural e artificializou inclusive nossas relações. Antes havia uma convenção e relação da cultura, do valor humano com a religião Cristã. Os dias festivos estavam unidos aos dias religiosos. Muito de respeito se tinha pelo valor da moral e cultura que se promovia na sociedade. O valor humano e aquilo que compete aos homens e mulheres, enquanto cristão, era prioridade. As músicas, as festas, a culinária, a estrutura social tinha um modo muito expressivo do humano e da valorização do indivíduo. Porém, com a inserção de novos valores, novos hábitos foram sendo cultivados, e outros perdidos. As estruturas econômicas passaram a ser de estrema importância e o valor do capital passou a cercar toda criatividade humana e toda estrutura comportamental humana. As culturas estão sendo deturpadas por valores que não engrandecem e nem dignificam o valor do homem e da mulher. A cultura que elevava o valor religioso e destacava a importância de Jesus no Natal, cada vez mais se distanciam desse propósito. Daí, o que não tem nada de belo, entra no currículo cultural humano, e o verdadeiro sentido de unidade, fraternidade, paz, amor, família, estão sendo ignorados e colocados no último plano, ou a serviço do movimento de uma economia. O artificialismo é inevitável e as relações humanas ficam cada vez mais desgastadas. Distanciando-se do verdadeiro sentido do Natal: unidade, fraternidade, dignidade, amor, paz...
Contudo, os pontos em questão tentam esclarecer acerca dos impasses que temos na atualidade, que nos distanciam cada vez mais do mistério natalino. A unidade com Jesus nos coloca diante de uma busca por tudo aquilo que ele promove, pelo seu reino que inicia-se em nosso meio, a partir do nosso mundo, quero dizer, de nossa compreensão de mundo. Precisamos estar atentos para não jogar fora a promoção da vida e da felicidade que está inserida na boa nova de Jesus e que sintamo-nos responsáveis e contentes por levar o projeto de Jesus aonde ainda não foi instaurado. Feliz Natal para todos!

Isaias Mendes, Postulante Redentorista.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

O sentido do Natal!


A Igreja Católica e seus membros-participantes costumam, enquanto Kerigma do Redentor e continuador da nova aliança, celebrar, na sua liturgia, de ontem para hoje(25/12) um momento especial que tornou-se um fato histórico na vida do povo de Deus: o nascimento e vinda de nosso senhor Jesus cristo, que é Menino Deus encarnado, na condição humana. Celebrar o Natal de Jesus implica em mudanças de postura na vida do homem, enquanto cristão, para o bem viver e melhor celebrar o nascimento do salvador. Daí, se faz importante, antes de tudo, saber o que realmente celebramos no Natal e o que somos chamados a viver nesse mistério do encarnado. Daí no Natal do Senhor, celebramos: a) a memória do nascimento do Menino Jesus; b) a revelação de Deus-menino em nosso meio; c) renovação da esperança trazida por Deus-menino encarnado; d) a confirmação da fé e da promessa de Deus pelo seu filho; e) o testemunho de vida, enquanto continuador de Jesus. Que semelhante a Agostinho, possamos entender para melhor amar a Cristo nazareno que celebramos de modo primário, particular e fundamental neste natal.

a)      a memória do nascimento do Menino Jesus

Conforme a liturgia da Igreja Católica Apostólica Romana, toda a Igreja hoje faz memória a um evento particular e fundamental que trouxe ao mundo a realização da promessa de Deus: o nascimento de Jesus, o nosso salvador. Assim, na liturgia todas as leituras estarão direcionadas sobre a figura central de Jesus. Nela fazemos memória pela palavra proclamada, pela tradição e magistério de tudo que Jesus nos ensinou, enquanto esteve na condição de homem. A bíblia (livros sagrados) é um dos instrumentos reveladores que Jesus esteve em nosso meio, entrou na nossa história e a marcou de modo irrevogável a nossa vida. Os quatro evangelhos sinópticos falam dele e narram o seu nascimento. É claro, não se pode interpretar o nascimento de Jesus ao pé da letra como está escrito dos evangelhos, pois cada evangelho foi escrito com uma intenção particular em conformidade com o seu tempo histórico e as questões e inquietações que os envolviam, mas o que não podem ser descartado é que fundamentalmente Jesus nasceu, veio ao mundo, participou da vida dos homens, revelou a Deus e seu projeto de salvação. Portanto, Por sermos cristão, Jesus se torna a razão fundamental de nossa fé e de nossa vida. Quando no natal proclamamos as leituras que falam dele, estamos rememorando o evento Cristo nazareno que é a razão de nossa esperança numa vida beata (cercada de virtudes e sabedoria de Deus). Nesse sentido cristo é conhecido, lembrado e amado cada vez mais pelos seus fieis (povo)que seguem o seu caminho.

b)      a revelação de Deus-menino em nosso meio

A bíblia relata o fato nazareno como algo comum, porém cercado de mistérios sobre Jesus. Conforme a narração dos evangelistas, Jesus nasce com um propósito e em vista de uma promessa divina: salvar as ovelhas perdidas da casa de israel. Seu nascimento é marcado por uma história que vem anterior a sua presença na terra: a história dos hebreus, do povo de Israel, do povo de Judá e dos judeus até Jesus. Daí se faz presente na narração de Mateus uma genealogia, que é a descendência de Jesus. Jesus provém de um projeto de unidade plena do homem com Deus, que se fez no gênese e que foi quebrado pela intenção do homem tornar-se como Deus: pecado. O pecado (do grego: desvio de percurso) fez com que homem se afastasse de Deus, mesmo diante de rituais de purificação e sacrifícios para perdoar os homens de seus erros e reconciliá-los com Deus. Diante da distância do homem com Deus se faz presente uma promessa do Deus. Ele terá que sacrificar-se como um sacrifício perfeito para apagar a mancha do pecado, neste sentido é             que Deus, sendo Uno e Trino, se entrega, na pessoa de Jesus de Nazaré, a fim de salvar o homem. Deus não é conhecido, mas se revela (trás a tona o que estava encoberto, tira o véu) ao poucos na história da humanidade a partir de seu filho. Nos relatos dos evangelistas vemos vários símbolos (magos, incenso, mirra, os anjos,...) que marcam essa revelação, que esclarecem a mente do homem acerca do mistério de Deus, na pessoa de Jesus. Neste sentido, toda teologia evangélica (que é a narração de fatos, justificados por narrações ou estórias antigas (Antigo Testamento), que indicam Jesus como salvador. 

c)       renovação da esperança trazida por Deus-menino encarnado

A celebração do Natal não é um reviver do menino Jesus em nosso meio de modo atual. Ele não renasce em nosso meio, pois Jesus já nasceu na história e isso só acontece uma vez. Mas se nós, povo de Deus que caminha no seu seguimento, não celebramos o nascimento de Jesus, então o que celebramos?! A resposta é simples: celebramos a esperança da salvação, de uma vida bem-aventurada (feliz, virtuosa) em nosso meio. Com a memória do nascimento de Jesus somo convidados a sentir a mesma esperança que os apóstolos sentiram quando Jesus estava com eles. Somo convidados a sentir a mesma alegria dos magos, Maria e José que acolheram a salvação em suas vidas. Essa esperança, esse espírito deve ser o mesmo que permeia em nós quando celebramos o Natal de Jesus. Em Jesus, um projeto verdadeiro e pleno de eudaimonia (Grego: felicidade) se concretiza e revela. Toda história do povo de Deus, desde Abraão e Moisés, na libertação do Egito, está com um anseio, uma esperança de verdadeira felicidade do homem em Deus. Essa esperança se realiza plenamente na encarnação do logos (Grego: palavra, ou razão) de Deus, no seu filho Jesus Nazareno. Com seu nascimento a esperança de felicidade, de paz, de vida em abundância, de eternidade, se torna possível. Na figura de um menino veio todos os sonhos do homem: unidade com Deus.
d)      a confirmação da fé e da promessa de Deus pelo seu filho

O nascimento de Jesus está vinculado a uma fé que vem desde Abraão, no tempo histórico. O Deus que prometeu a Abraão ser seu Deus e nele abrir as postar de um advento de geração infinita, como as estrelas do céu, é o mesmo Deus que libertou Moisés e seu povo da escravidão no Egito, que prometeu uma terra santa, que orientou os Reis (Davi, Salomão, Saul) para governar seu povo, que anunciou, pelos profetas, o Messias e prometeu salvar seu povo, e reconciliar-se com o homem por meio de um sacrifício de Cruz. Essa promessa inicia seu advento por João Batista e entra em sua efetividade pelo mistério encarnado de Deus-Menino. Portanto, uma espera ansiosa se realiza e uma fé que segue uma tradição é confirmada. Jesus é a plenificação dessa promessa. No Natal de Jesus Deus se revelou, tornando-se humano de modo consubstancial a sua natureza divina. O fato Cristo torna efetivo-histórico a entrada de Deus ao mundo temporal, a história. Antes Deus era indescritível, inapreensível em sua extensão e essencialidade, porém com o projeto da encarnação Deus se tornou humano, portanto compreensível e próximo. Agora o que se acreditava estava confirmado pela humanização de Deus. É importante salientar que sendo Deus homem, sua essência divina não é descartada. Daí, Deus se conforma a um estado humano sem deixar sua essência divina. Assim, nas nossas liturgias natalinas, trazemos memória de um Cristo histórico, revelado, esperançado e confirmado pela nossa fé

e)      o testemunho de vida, enquanto continuador de Jesus

Celebrar o Natal de Cristo não é só fazer memória de um acontecimento histórico, da entrada de Deus em nosso mundo, mas isso implica em coisas mais profundas e de extrema importância para um cristão. O diferencial em ser cristão é que com o Natal de Jesus nossas esperanças se renovam e nos tornamos participantes deste projeto salvífico.  A entrada de Deus-Menino na história implica uma promessa realizada, porém ela não se encerra somente em Cristo. Contudo, Jesus é o centro de toda mensagem salvífica, mas ele nos convida a participar deste projeto. Ele o realizou na cruz, mas nos deixou uma missão de propagador dessa mensagem. Neste sentido somos anunciadores da boa nova de Jesus e continuadores de seu projeto. O anúncio do Natal, vida, paixão e ressurreição de Cristo está estreitamente unido ao testemunho vivo dessa boa nova. Assim damos testemunho da fé desde os seus primórdios e continuamos com seu projeto redentor até a vinda de Jesus. A vida de testemunho torna nossa fé consistente e verdadeira, efetivada em bases consistentes transmitida pelo anúncio na vida prática e nas celebrações da Igreja.
Por fim, o que celebramos está totalmente relacionado pelo que somos chamados a viver. Nossa liturgia trás uma riqueza espetacular que ganhou forma no desenrolar da história. O Natal de Cristo implicou em mudanças profundas na história, seu projeto e sua vida é uma abertura de unidade a Deus. E nós somos convidados a dá testemunho da palavra que outrora foi testemunho de vida e experiência com Deus. Que o natal de Jesus seja um convite a identidade e conformidade do cristão com o projeto (vontade) do Redentor.
Isaias Mendes, Postulante Redentorista.