quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Lula e Dilma: percursos e desafios no Brasil

Depois de uma disputa acirrada contra o tucano Aécio Neves com 48, 3% de votos, a petista Dilma Rousseff, com 51, 6% de voto, continua na cadeira da presidência do nosso País. Seu legado é uma continuação do governo Lula, cuja maior expressão política de assistência à sociedade civil e aos mais pobres, foi à realização do projeto bolsa família, dentre outros.  Continuar o projeto Lula no segundo turno é o grande desafio de Dilma até então. Neste sentido o governo Lula e sua continuação (Governo Dilma) são sinais de esperança para a sociedade civil e de modo especial para o povo desassistido da sociedade e para o progresso do país como um todo que, segundo firma Delfim Netto, só tem um caminho: crescer!
Tendo como base de reflexão o documento América Latina: sociedade em mudanças do Conselho Episcopal Latino Americano (CELAM) e a Carta Capital , apresentar-se-á alguns pontos que já se realizaram no atual governo Dilma, deste o anterior, de Lula da Silva, e destacar algumas luzes que podem ajudar no caminho do nosso país.
O documento do CELAM apresenta sobre a realidade da América Latina em seu conjunto: o cenário cultural, social, econômico e político na América Lantina. Porém, essas orientações e dicas também são úteis para demonstrar os avanços do atual governo no Brasil e seus desafios, pois as ideias contidas no documento concordam até certo ponto, com as ideias de grandes estudiosos e comentadores sobre os desafios do atual governo Dilma e suas relações comerciais internacionais.
Uma das mudanças, no nosso país e nas suas relações internas de auxílio à sociedade civil, mais significativas e expressivas da história, se realizou em 2003 quando o povo elegeu para presidência o ex-metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva. Esse fato histórico é confirmado quando o Doutor em Ciências Sociais, pela Pontifícia Universidade Gregoriana, Victo Chavez, no Informe do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM) afirma sobre a sociedade civil no Brasil, nos seguintes termos:
o caso do Brasil é paradigmático, no sentido de que se percebe o maior desenvolvimento dessa subjetividade de maneira organizada, articulada, denunciante, mas também propositiva, com recursos econômicos e agora com o apoio substancial por parte do governo do Presidente Lula da Silva. (...) O modelo do Brasil provavelmente não seja um modelo exportável, mas pode ensinar outras sociedades o que é capaz de fazer, o que os excluídos e desencantados pelo sistema dominante podem fazer, quando se organizam e constroem o seu futuro a partir “do micro”. (CELAM, 2005, p.25). (Grifo nosso).
A sociedade civil, os excluídos e desencantados com o sistema dominante exclusivo e explorador, a saber, no Governo FHC e anteriores (Ditadura?), mostraram de fato sua força democrática quando elegeram durante dois mandatos de governos consecutivamente Lula e Dilma. Segundo Mauricio Dias da Carta Capital comenta sobre o presidente do Ibope Carlos Augusto Montenegro e o atual governo: “Montenegro acredita que a vitória de Dilma foi baseada nos programas sociais do governo Lula e naqueles que ela própria criou ao longo do seu primeiro mandato.” (Cf. Carta Capital, 29 de outubro, 2014, p.24). O desafio agora passa a ser o impulso no sistema econômico do país, sem perder de vista as ações sociais, de assistência civil e a participação do povo nas decisões do nosso país para que possamos crescer.
Segundo o documento do CELAM apresenta como hipótese sobre o caminho a percorrer da América Latina, útil também para a situação do Brasil:
um novo momento de época parece estar surgindo. (...) Aqui nos atrevemos pensar que talvez a resposta esteja em trabalhar simultaneamente tanto na estrutura como na cultura. Ou, com mais precisão, nas estruturas- e outro espaços- mas com enfoque cultural. (...) recuperar o sentido comunitário da vida pessoal e eclesial como caminho pedagógico permanente. (...) Não bastam os planos e projetos de reforma, por mais alternativos que se manifestem. Eles são necessários, mas não suficientes. Somos da opinião de que um novo processo precisa ser estimulado mesmo quando pareça menos causador de impactos- por ser mais lento. Um processo educativo que nos permita recuperar nossas identidades socioculturais. (CELAM, 2005, p.22) (Grifo Nosso)
Essa hipótese serve para a situação sócio-cultural-político-econômica do Brasil, no governo Dilma. Mudança de estruturas que já não apresentam serviço produtivo e eficiente para a sociedade. Estas estruturas não tem sentido de permanecer, pois elas não atingem o sentido da existência humana e nem propicia o bem estar social e o combate à pobreza, que deve ser é a nossa busca maior.
Segundo o documento do CELAM afirma sobre a luta contra a pobreza a partir do crescimento do comercio e da ajuda:
O comercio e o investimento não são fins em si mesmo, mas instrumentos pra alcançar um desenvolvimento justo e sustentável. Os cidadãos e as cidadãs têm o direito de participar da formulação, instrumentalização e avaliação de políticas sociais e econômicas continentais. (CELAM, 2005, p.57).
      Esse indicativo ético e político para o desenvolvimento dos países é de fundamental importância e relevância para a estrutura interna e suas relações comerciais internacionais no atual governo. A participação do povo é um dos fatores que contribuem para um desenvolvimento sustentável da nação e para eliminação de sua desigualdade social que afeta a muitos brasileiros. Daí se faz necessário novos caminhos que der rumo ao Brasil.Segundo Sávio de Tarso na Carta Capital ( 2014, p.40): “O Brasil do futuro precisa unir três conceitos: planejamento, inovação e sustentabilidade.” Segundo eleÉ essa a principal conclusão dos especialistas reunidos em um debate da série Diálogos Capitais, realizado em São Paulo, na terça feira 21”. Os temas mais pertinentes são “a escassez de água, criatividade na busca de modelos e tecnologias e desenvolvimentos equilibrados do meio empresarial”. (CARTA CAPITAL, 29 de outubro, 2014, p.40).
O Diálogo com o parlamento, o apoio do ex-presidente Lula, as iniciativas de mudanças estruturais no sistema político com uma nova constituinte, a regulamentação e participação dos conselhos no Congresso (negada por muitos parlamentares) foram algumas medidas tomas no governo de Dilma que já sacudiram o Congresso em sua ala fechada e conservadora. Essas medidas indicam um trabalho conjunto entre sociedade civil, mercado e governo, em que o povo tem uma maior abertura e protagonismo nas questões de regência do nosso país. Isso está em acordo com o apresentado pelo documento do CELAM, que propõe uma integração e atuação em conjunto para o crescimento do país nas suas relações internas e externas (Cf. CELAM, 2005, p.58).
No setor econômico atual, Dilma terá que promover uma expansão da economia, área de sua especialidade. Segundo Delfim Neto na Revista Capital em relação ao sistema econômico brasileiro e suas relações internacionais:
temos de voltar a crescer. Não existe alternativa. Há sinais desagradáveis na economia, entre eles um aumento da dívida em relação ao Produto Interno Bruto, mas eles podem ser corrigidos. (...) Dilma perdeu a credibilidade no setor econômico por ter sacrificado o equilíbrio fiscal e ter sido um pouco leniente com a inflação. Tudo isso para conservar a inclusão social. Mesmo sem o apoio do setor econômico ela ganhou a eleição, por causa do suporte social, pelo fato de manter os empregos e a melhora dos salários. (CARTA CAPITAL, 05 de novembro de 2014, p.23 - 24).
Na antiga gerência do País, regida pelo sistema neoliberal, tivemos problemas grandes para a camada mais pobre do país e a desigualdade social se tornou cada vez mais patente. O modelo neoliberal promoveu o maior desemprego, baixos salários, aumento das diferenças sociais e dependência do capital internacional. Como percebido na citação acima, o governo de Lula e Dilma promoveram mudanças significativas como uma instabilidade econômica interna. Se compararmos à crise econômica na Europa, o Brasil não se sentiu tão abalado quanto aos demais países.
Segundo Delfin assinala:
O Brasil abandonou o setor externo desde 1984. Naquele momento, nossa participação no comercio internacional equivaleria a 1,3%. Hoje, está no mesmo patamar. (..) Fizemos coisas importante no caminho, a estabilização, a inclusão...Mas nunca nos preocupamos com as exportações. Dá para recuperar? Sim. (...) Temos de voltar a conversar cm essas companhias, discutir maneiras de incluir a nossa economia nas cadeias globais. O cambio é importante, mas não é tudo. Temos um enorme mercado interno, é fato. Precisamos, porém, do mercado externo para ganhar escala. (CARTA CAPITAL, 5 DE NOVEMBRO, 2014, p.25).
Outros elementos que o CELAM sublinha sobre a realidade da América Latina, com seu modelo neoliberal e do avanço tecnológico na modernidade foi que:
a gestão pública dos governos deixou muito a desejam técnica e operacionalmente, simplesmente porque a elite política, que teve por décadas acesso ao know hnw da administração pública, basicamente pertencia aos regimes autoritários. Posteriormente, a gerência pública foi deixada nas mãos dos chamados tecnocratas, e está claro que em nível mundial esse tipo de funcionalidade está de saída, simplesmente por sua insensibilidade social, quando é precisamente na questão social que se perfila uma das principais vulnerabilidades da situação latino-americana. (CELAM,2005, p.67-68).(Grifo nosso)
O Brasil passou por esse processo e não soube lidar corretamente nas suas relações comerciais internacionais e internamente. Com os investimentos no comercio internacional e o projeto neoliberal mais ligado aos interesses dos ricos, o comercio se opôs às necessidades e interesses dos pobres. Com o comercio internacional e seus desafios os países da América Latina, da década de 60 até 90 tiveram relações comerciais externas com o Banco Mundial, dentre outros, com o objetivo de aumentar a renda per capita dos países menos favorecidos como Brasil, para que a desigualdade fosse encurtada, disso, derivou dívida externa que freou a luta contra a pobreza. Porém, no governo Lula tivemos uma estagnação da pobreza, que marcou o caráter progressivo social e econômico interno do país.
Outro elemento que se torna relevante na situação do país é a questão da violência e da corrupção. Segundo o documento da América Latina: sociedade em Mudanças já indicava, nesses termos:
Erradicar a violência é um dos grandes desafios para quebrar a tensão da situação política latino-americana, seja pelas insuficiências do Estado de direito, seja pelo grau de corrupção que algumas sociedades alcançaram; trata-se de um dos tópicos que em maior medida laceram a dignidade das pessoas. (CELAM, 2005, p.69).
       Isso indicativo contrasta com a situação política e social do Brasil. Mensalão, corrupção, violência e inseguranças foram fatores que sentimos mais presentes nesses tempos. Segundo o CELAM já afirmava: “As corporações de seguranças manifestam-se ultrapassadas, e os governos não estão em condições de competir com a infraestrutura do crime organizado, particularmente com os cartéis do narcotráfico” (Cf. CELAM, 2005, p.69).
Medidas urgentes e efetivas para acabar com a corrupção tanto política como empresarial, assim como com o narcotráfico, de pessoas, órgãos e drogas, dentre outros, se faz necessário no governo atual.
Outro elemento que destaca o documento é a questão da relação da educação e saúde que as mudanças do desenvolvimento econômico originam:
Os maiores níveis de educação e de salário em segmentos importantes da população não produzem necessariamente cidadãos complacentes com o sistema, mas antes cidadãos mais críticos. Em muitos casos, isto se traduz em uma população mais educada e mais frustrada. (...) Uma maior educação é em grande parte responsável na região pelos protestos populares contra a corrupção e o mau desempenho dos governos. Muitos mais aprenderam a defender seus direitos. (...) Os governos hoje em dia são mais investigados por seus povos, porque há mais educação. Se a mudança de condições na região se dá com a educação, então a velocidade da mobilidade social é intergerações. (Cf. CELAM, 2005, p.75).
Esse indicativo apresenta o que de antemão tivemos nos últimos dois anos no Brasil. As manifestações populares, interligadas aos sindicatos dos trabalhadores e outras camadas sociais populares foram respostas da população mais consciência de seus direitos. Luta por educação, saúde, segurança, salário digno, foram manifestações, nem sempre coerente como suas exigências, que aconteceram no Brasil e demonstraram que o povo tem uma consciência mais acertada sobre seus direitos, apesar de nem sempre saberem se articular.
Portanto, tivemos mudanças significativas nos dois governos. No governo Lula tanto houve benefícios nas relações comerciais do Brasil com outros países como internamente como os projetos de assistência sociais, minha casa e minha vida, o aumento da base de distribuição de renda e programas de direitos fundamentais para milhões, assim como os investimentos no setor agrícola, nos projetos de cursos e educação de inclusão social e o pré-sal, inovado bem rentável. Com Dilma esses projetos continuaram e muitas pessoas foram assistencializadas, principalmente a camada desassistida socialmente. Muitos investimentos foram realizados para que a inclusão social acontecesse. Portanto, como afirma o governado da Bahia Jaques Wagner: “Agora é hora de ampliar o diálogo com a sociedade, cada dia mais exigente e a clamar pelo combate à corrupção e por mudanças pelas quais não se pode mais esperar. É o momento de redefinir as relações com os movimentos sociais e empresas”. (Cf. CARTA CAPITAL, 05 De Novembro, 2014, p.30). 

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Política agora, daqui a dois anos?



            A resposta para o título deste texto é o assunto que pretendo abordar. Dependerá, portanto, de pontos de vista. No entanto, daqui a dois anos, ocorrerá o pleito para prefeito e vereadores, mas isso não significa dizer que, só se deve dar atenção a política daqui a dois anos.

            No Brasil, país democrático, ocorrem eleições para vereadores, deputados, prefeitos, governadores, senadores e para presidente. O cidadão brasileiro tem o direito de eleger quem ele, livremente optar, para governar sua cidade, seu estado e seu país.  Cabe também ao cidadão, acompanhar se o seu candidato eleito, realizou as promessas que, outrora fez em época de campanha.

            Escreve o Papa Francisco, na Evangelii Gaudium, 205: “Peço a Deus que cresça o número de políticos capazes de entrar num autêntico diálogo que vise efetivamente sanar as raízes profundas e não a aparência dos males do nosso mundo. A política, tão denegrida, é uma sublime vocação, é uma das formas mais preciosas da caridade, porque busca o bem comum. Rezo ao Senhor para que nos conceda mais políticos, que tenham verdadeiramente a peito a sociedade, o povo, a vida dos pobres. É indispensável que os governantes e o poder financeiro levantem o olhar e alarguem as suas perspectivas, procurando que haja trabalho digno, instrução e cuidados sanitários para todos os cidadãos”.

            Que a política tem se tornado denegrida é do conhecimento geral, porém, é de se considerar que existem homens e mulheres, realmente comprometidos com a honestidade, com a seriedade, e em servir a sociedade. Assim sendo, nem tudo está perdido. Existem os bons políticos, que honram a confiança que recebem do povo. Pode-se observar na Exortação do Papa Francisco, sua preocupação com este aspecto da política.

            Não obstante, daqui a dois anos, os noticiários voltarão a tratar diariamente, sobre as campanhas dos candidatos, dos acordos que serão feitos, dos possíveis nomes preliminares. O pleito de 2016 será para eleger os vereadores e prefeitos, portanto eleições regionais. Caberá ao cidadão, julgar o mandato dos que já tem o poder e conhecer a história de outros possíveis nomes, para fazer uma escolha consciente e votar em quem acredita ser capaz de fazer um bom mandato.

            Recentemente, na semana da pátria deste ano, foi realizado o Plebiscito Constituinte, em que as pessoas, se posicionavam sendo a favor ou contra a Reforma Política. Esse Plebiscito foi feito com a intenção de ser executada uma Constituinte, dizendo com todas as letras, Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político. A receptividade desse Plebiscito pode ser considerada expressiva, ao ser considerado os 7 milhões e 500 mil votos. Antes de falar no que é de fato essa Constituinte, é preciso entender a lógica do atual sistema político. De dois em dois anos, assistimos candidatos serem eleitos, os que são eleitos têm um gasto muito maior do que os que não são. Outro fator repetitivo é o financiamento das campanhas, feito por empresas privadas, que depois querem obter alguma vantagem.

            Detenhamo-nos agora, em como está composto o Congresso Nacional. É um Congresso de deputados e senadores que são minoria em relação a população brasileira. A maioria deles são fazendeiros e empresários, no entanto, a população brasileira na sua maioria é composta de trabalhadores. A participação das mulheres ainda é pequena, sendo apenas 9%, em contrapartida as mulheres são mais da metade da população brasileira, menos de 3% são jovens, sendo que os jovens de (16 a 35 anos) são 40% do eleitorado.

            Analisando os dados acima, é possível chegar a conclusão de que o Congresso, representa pouco os brasileiros, assim sendo, será que resolverão os problemas que foram levados as ruas pelos jovens em 2013? Dessa forma, o Plebiscito Popular já citado, quer conseguir uma Assembleia Constituinte, que terá poder para mudar o sistema político do Brasil. Assim, com essa renovação política, quiçá será possível alcançar as transformações desejadas de tantos problemas sociais.

Felipe Augusto Ferreira Feijão

Estudante de Filosofia (UECE)





domingo, 2 de novembro de 2014

Santo Afonso 'Tempo e eternidade': uma reflexão sobre a vida, morte e eternidade. (Dia dos Falecidos!)

Se crês, meu irmão, que hás de morrer, que existe eternidade, que se morre só uma vez, e que, dado este passo em falso, o erro é irreparável para sempre e sem esperança de remédio: por que não te decides, desde o momento em que isto lês, a praticar quanto puderes para te assegurar uma boa morte? Apressa-te em tomar o remédio oportuno; decide entregar-te inteiramente a Deus, e começa, desde já, uma vida que não te aflija, mas que te proporcione consolo na hora da morte. (LIGÓRIO, Santo Afonso Maria de.  Tempo e eternidade: vida-morte-futuro, 2002, p.14-15)

Tal frase da obra Tempo e eternidade: vida-morte-futuro de nosso pai Santo Afonso Maria de Ligório apresenta uma luz sobre o dia atual, em que fazemos memória ao dia dos falecidos e podemos refletir sobre nossa estadia aqui na terra. Por isso vamos ver um pouco sobre essa bela obra.
O tema geral de que ela trata é a vida, morte e eternidade. A obra é composta por 20 capítulos seguidos de uma oração. São reflexões e meditações que envolvem o tema geral. A obra é composta por várias citações das Sagradas Escrituras, dos diversos santos ou sábios da tradição cristã que auxiliam de modo pedagógico, numa compreensão sobre nosso modo de vida e proceder para a nossa salvação.
A nossa vida, dom gratuito de Deus, pressupõe algo que é inevitável para todos nós: a certeza da morte. Todas as coisas passam, porém só a morte é certa. E a grande diferença está no modo como a vemos e nos deparamos com ela. Para nós cristãos a morte é passagem para a eternidade que pode seguir dois caminhos: o caminho da glória em Deus ou do tormento eterno. Diante disso, muitos se afligem quando a morte se aproxima. E a causa disso está no proceder humano aqui na terra, apegado aos bens passageiros, ou no desacordo de sua vontade com a vontade de Deus.
Nossos santos viram a morte de modo diferente, ou seja, como a porta da vida na presença de Deus. Segundo Santo Afonso:
os tormentos que afligem os pecadores na hora da morte não afligem os Santos. “As almas dos justos estão nas mãos de Deus, e não os atingirá o tormento da morte” (Sb 3, 1)(...) Não se afligem os Santos por terem de deixar honras mundanas, pois sempre as desprezaram e as tiveram na conta do que são efetivamente: fumo e vaidade, e somente estimaram a honra de amar a Deus e de ser por ele amados. Não se afligem por terem de deixar seus parentes, porque somente os amaram em Deus e, ao morrer, os deixaram recomendados àquele Pai celestial que os ama mais do que eles; e esperando salvar-se, crêem que melhor lhes poderão ajudar lá no céu do que ficando na terra. (LIGÓRIO, 2002, p.22) .
            Os homens bons nada têm a temer na hora da morte, sendo que Deus tendo as almas dos justos em suas mãos, assegura-nos sua glória com Ele eternamente. Assim, na hora da morte, da tentação, do desespero,
virão os santos protetores; virá São Miguel, destinado por Deus para a defesa dos servos fiéis, no combate derradeiro; virá a Virgem Santíssima e, acolhendo sob o seu manto que foi seu devoto, derrotará os inimigos; virá Jesus Cristo mesmo a livras das tentações essa ovelha inocente ou penitente, cuja salvação lhe custou a vida. (LIGÓRIO, 2002, p.27)
Aqueles que amam a Deus e oferecem a sua vida, tornar-se-ão semelhante aos Santos e Mártires. Portanto, Amemo-lo, pois, o mais que pudermos nesta vida, que só para este fim deve servir-nos, isto é, para crescer no amor divino. O grau de amor que tivermos na hora da morte será igual ao desejo que nutrimos em nos unir a Deus na bem-aventurança eterna.
Assim, a preparação para uma boa morte se faz necessária e isto esta durante o tempo de nossa vida. Nosso Santo nos indica fazer esse percurso:
prostra-te aos pés do Crucifixo; agradece-lhe o tempo que sua misericórdia te concede para regular tua consciência, e passa em revista a seguir todas as desordens de tua vida passada, especialmente as de tua mocidade. (...) Afasta de teu coração todo afeto mau e todo rancor ou ódio. Satisfaze qualquer motivo de escrúpulo acerca dos bens alheios, da reputação lesada, de escândalos dados, e propõe firmemente fugir de todas as ocasiões em que possas perder Deus. Pensa que aquilo que parece difícil, impossível, te parecerá no momento da morte. (LIGÓRIO, 2002, p.39).
Afonso nos indica a aproveitar bem o tempo que temos para ganhar os bens eternos, que fazem parte da Graça de Deus e de uma vida virtuosa. Esses bens não passam e não se acabam como os bens materiais, mas perduram para eternidade. Eles sãos as únicas coisas que levamos nessa vida para eternidade. Se agirmos assim, na hora da morte, teremos a nossa recompensa e estaremos em paz.
A nossa salvação é a nossa meta que começa aqui e termina no Céu, porém é dela que boa parte dos cristãos mais se esquecem.  Sendo assim, boa parte dos cristãos vivem como se a morte, o juízo, o inferno, a glória e a eternidade não fossem verdades de fé, mas apenas fábulas inventadas pelos poetas. Portanto, façamos todo esforço para adquirir o grande tesouro do amor divino. 
O pecado nos fasta de Deus e nos torna confusos e inquietos, sem paz. Segundo Santo Afonso o pecado também ofende a Deus, pois o movimento que vai contra sua vontade se dá contra o seu projeto de salvação que constitui parte de Deus. Porém, apesar de nossos pecados, Deus na sua misericórdia infinita espera por nós, na nossa humildade para pedi-lhe perdão, pois nos ama infinitamente e quer nos dar aquilo que brota de dentro de sua divindade: o amor e a vida. Assim como na parábola do filho pródigo. 
Sua graça nos acompanha na medida em que nos unimos a Ele e procuramos fazer a sua vontade, conformando a nossa com a Dele. Pela oração alimentamos nossa fé e nossa alma, e nos disponibilizamos para a comunicação e seguimento de Deus. A perseverança é outro elemento que nos ajudar na caminhada, pois assim não nos perdemos diante das tentações, das inúmeras opções vazias de sentido e verdeira felicidade.
O pedido a Nossa senhora é outro elementos importante que Afonso cita como caminho para vida segura e cheia de graça, pois, assim como Maria intercedeu aos povo nas bodas de Caná, do mesmo modo ela faz por nós que somos seus filhos. Por fim, o amor de Deus mais se revela e mais se aproxima na medida em que nos confiamos a ele e nos entregamos para fazer a sua vontade, pois a nossa salvação está no conformar da nossa vontade com a de Deus, uma vez que Deus já nos ama e deseja profundamente nos salvar, porém, Ele não transgride nossa liberdade.  

Entregemos-nos, portanto, sem reserva às mãos de Deus, que jamais deixa de atender ao nosso bem (1Pd 5,7). “Pensa tu em mim,-dizia o Senhor a Santa Catarina de Sena- que eu pensarei em ti”. Quem procede assim passará uma vida feliz e terá morte santa. Aquele que morre inteiramente resignado com a vontade divina deixa-nos a certeza moral da sua salvação. (LIGÓRIO, 2002, p.139) .