sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

A convergência para o Natal de Jesus: nossa real felicidade!

A realidade brasileira com seus problemas desafiantes, apresentados no artigo anterior, a saber, o Advento: Realidade brasileira, vem Senhor Jesus, caracteriza-se como uma realidade que possui elementos de trevas na nossa contemporaneidade, no mundo atual. Porém, apesar dessa infeliz evidência no cenário brasileiro, não podemos perder as esperanças que alimentam nossa alma, ou seja, não podemos deixar que as trevas, ou sinais de morte, no nosso meio, dissipem a luz da nossa vida, porque hoje celebramos um dia especial na história humana, um dia em que a luz de Deus veio ao mundo: Jesus Cristo. “Ele era a luz verdadeira que ilumina a todo o homem” (Jo1, 9), o prometido de Deus que veio para salvar nos de nossos pecados.

A liturgia dessa semana vem nos chamar atenção para este grande evento que mudou a história: a encarnação do Filho de Deus. Tal evento é precedido por um percurso preparativo, caritativo, profético, libertador e natalino, que pode contribuir na nossa vida como sinais divinos, ou luzes de esperança em meio a essa realidade de treva e escuridão que passamos. Como nos disse João: “a luz brilha nas trevas”(Jo1,5). E é para iluminar o nosso caminho, para libertar o povo de suas mazelas, ou pecados, ou seja, para purificar-nos, remir-nos e encher nosso coração de alegria plena, que o Filho de Deus, o verbo divino, “se fez carne e habitou entre nós” (Jo1, 14).

A figura de Ana (1Sm 1,1-28), mulher estéril, e justamente por isso, vista como condenada aos olhos da época, é um sinal da concretude da esperança, libertação e alegria em Deus."Na amargura de sua alma, ela orou a Deus e chorou muito"(1Sm 1, 10) pedindo para ter um filho e restaurar a sua dignidade. O Senhor ouviu as suas preces, dores e a atendeu, concedendo-lhe um filho que se chamou Samuel e que foi consagrado a Deus. Assim como Ana, muitas pessoas ainda passam por situação de exploração, humilhação e preconceito por estarem em condição social, econômica e de vida distinta das demais pessoas.

A título de exemplo podemos observar que boa parte dos nossos idosos, as pessoas com deficiência física e mental, e as mulheres do nosso país, sofrem ainda diversos preconceitos, explorações e, em casos extremos, são abandonados, ou pela família, ou pela sociedade, ou pelos setores jurídicos de responsabilidade social humanitária. Não percamos as esperanças de dias melhores e de uma vida na verdadeira paz de Deus e no resgate da dignidade humana. Ana orou a Deus e foi atendida, pois ela teve graça aos olhos de Deus, (1Sm 1, 10). Que possamos como Ana ser servos bons e que buscam a Deus nas nossas dores, angustias e lutas cotidianas. Pois assim como Ele escutou Ana em sua dores, do mesmo modo irá nos escutar, e assim como se compadeceu  de Ana, irá se compadecer de nossas dores, pois nos ama com amor de Pai e Mãe. Confiemos em Deus e busquemos superar essas situações de trevas, pois o Senhor está conosco e irá nos ajudar, ser a nossa LUZ e Salvação, nos mostrar um caminho de Verdade e Amor. Como Ana, que tenhamos uma experiência de fé profunda com Deus a tal ponto de senti-LO pulsando e conduzindo a nossa vida apesar de nossas limitações.

Do mesmo modo que Ana, Izabel a mulher de Zacarias, foi agraciada por Deus com um filho, observemos que a geração de Izabel faz parte da mesma geração de Ana, e que as duas foram agraciadas por Deus, pois elas fizeram parte da misericórdia divina. Izabel, estava em idade avançada, e não tinha filhos, ou seja, era estéril, e, portanto, passava pela mesma humilhação que Ana, mas o Senhor concedeu-lhe uma grande alegria. A alegria de Izabel é um chamado para nós nos alegrarmos em Deus, pois assim como Ele escolheu Izabel, serva temente e aberta a vontade de Deus, do mesmo modo Ele nos escolhe, a cada um de nós, para sermos servos seus e testemunhas vivas e atuantes da sua misericórdia em nosso meio, e nos alegrarmos com Deus neste dia mais que especial. Porque de Izabel Deus fez sair aquele que iria preparar o caminho de Jesus: João Batista. O último dos profetas do antigo testamento.

João Batista é um mensageiro que irá preparar o caminho do Senhor, segundo o livro de Malaquias(3,1), o Elias, que “fará voltar o coração dos pais para os filhos e o coração dos filhos para os pais, para que não venha ferir a terra com condenação” (Ml3,24), que irá endireitar os caminhos do Senhor, pela denuncia profética e pela conversão dos pecados (Mt3,6-11). A figura de João Batista é uma motivação para nós, afim de que não descuidemos de buscar os caminhos de Deus e na nossa vida praticar a sua justiça, pois como diz o salmista “Deus é bondade e retidão, e aponta os caminhos aos pecadores; encaminha os pobres conforme seu direito e ensina seus caminhos aos infelizes. Os caminhos do Senhor são verdade e são amor, para os que guardam sua aliança e seus preceitos”(Sl25). Diante da nossa realidade de injustiça social, de desigualdade social, da intolerância religiosa, da corrupção na política, que atinge e também corrompe a própria sociedade, não podemos calar a voz de Deus, a vós da Verdade, da Justiça divina que denuncia o pecado social humana e motivar-nos a cada um para uma conversão sincera e comprometida com o Reino de Deus.

A ação profética não se trata somente de uma denuncia por denunciar, se não ficarmos somente em uma pequena parte do processo profético, mas, de outro modo, precisamos denunciar as injustiças, afim de que se tenha uma conversão.  Não nos enganemos, a inclinação ao pecado humano é algo ao qual estamos todos nós sujeitos, pois está cravado no nosso coração e é muitas vezes promovido socialmente como a corrupção, que atinge tantos os mais ricos como os mais pobres. A única distinção e gravidade que temos em relação ao pecado humano se encontra no âmbito do poder que temos, por isso quem tem mais poder prejudica de modo mais drástico a si e a humanidade do que a pessoa que não o possui. Independente dessa variação de prejuízos no pecado humano, a conversão, portanto, é uma busca constante em nosso mundo como produto da denuncia de injustiça e a finalidade de tal denuncia está na reintegração do homem com Deus e do homem consigo mesmo. Nesse sentido a figura de João Batista, como profeta, é exemplar na nossa vida, para transformar nossa realidade de trevas em realidade de luz.

Três personagens nessa semana são importantes na nossa vida e principal mente neste Natal do Menino Deus: Ana, Zacarias e Maria. Essas três grandes pessoas cantaram de alegria e felicidade as maravilhas do Senhor e nos recordam a providência divina como o resgate do seu povo. O canto de Ana (1Sm 2,1-11) reconhece a Deus como o altíssimos promotor dos vivos e dos mortos, “que faz morrer e viver, faz o homem descer a morte e dela superar. É Deus quem empobrece e enriquece,  quem humilha e quem exalta” (1Sm 2,6-7). Ela nos precaver para que tenhamos uma ação prática de misericórdia e justiça, sem palavras de presunção, de arrogância. Ela alimenta a nossa esperança levando nos a observar um Deus que “levanta do pó o fraco e indigente” e que “guarda o passo dos que lhe são fiéis”. Deus resgatou a sua dignidade e fez justiça a seu povo, ou seja, retirou da humilhação sua família.  É um canto da vida, história e reparação do povo de Deus, pela sua misericórdia divina. Em Ana podemos observar um Deus conosco que sempre permanece em nosso meio.

Zacarias, sacerdote do Senhor, é agraciado por Deus, porque o Anjo Gabriel apareceu-lhe e anunciou a vinda do precursor de Jesus, seu filho, João Batista. Até a nomeação do seu filho, Zacarias fica em silêncio por ação do Anjo. Tal estado de silêncio é algo fundamental na nossa vida e na vida do profeta, uma vez que, o silêncio nos propicia o encontro com Deus e conosco mesmo, com o nosso eu. Nas montanhas, no deserto, no interior do nosso quarto, ou melhor dizendo, onde há silêncio, é onde Deus está e onde podemos ter condições mais favoráveis para nos encontrar com Ele. Pois, não tem como ter intimidade com Deus, interiorização, sem uma vida dinamizada pelo silêncio tal como foi a vida de Jesus. Nessa perspectiva podemos observar o quanto que nossa sociedade está ruidosa e barulhenta, pelos anúncios e propagandas da moda, pelos carros de sons. A maioria dos nossos espaços sociais, como as praças, as lojas e os Shoppings, entre outros, estão nessa agitação. E isso demonstra a inquietação do coração humano que não terá descanso enquanto não se encontrar com Deus e sua paz. Se nossa sociedade está preenchida por todas essas coisas ruidosas e poluidoras de nossa paz, se as pessoas não silenciam para escutar exclusivamente a voz de Deus, então, evidencia-se uma grande dificuldade para saber o que Deus quer em nossa vida, na nossa história e qual o caminho iluminado que Ele nos propõe nesse Natal. 

O canto de Zacarias acontece na glorificação a Deus e agradecimento por Deus conceder-lhe um filho que irá a frente do Senhor para aplainar e preparar os seus caminhos (Lc1, 76). É um canto de alegria e libertação, se em Ana vemos um canto que reconhece o amor de Deus para com ela, analogamente o canto de Zacarias nos remonta a história do povo de Deus, o povo de Israel e a essa experiência de misericórdia. Por isso Zacarias bendiz o Senhor dizendo, “Bendito seja o Senhor Deus de Israel, porque visitou e redimiu o seu povo, e suscitou-nos uma força de salvação na casa de Davi, seu servo, como prometera desde os tempos remotos pela boca de seus santos profetas, a salvação que nos liberta dos nossos inimigos e da mão de todos os que nos odeiam” (Lc1, 67-72).   Esse caminho de libertação tem um objetivo prático e ético como em Maria: servir a Deus, em santidade e Justiça, isto é, realizar a vontade de Deus durante todos os nossos dias. Observamos assim que em Jesus nazareno se realiza a promessa de Deus para todos os seus descendentes da tradição davídica e para as gerações posteriores, para todos os séculos sem fim. Observamos que Zacarias fica feliz por ver nos sinais da sua vida cotidiana a presença salvífica de Deus. Com esta personalidade exemplar temos o desafio de observar na nossa história, lutas, sofrimentos e vitórias a presença de Deus que caminha conosco, e, podemos mais ainda agradecer a Deus por todos os dons que Ele nos tem concedido, como o dom da vida, os bens divinos do mundo natural e principalmente a graça da salvação que está possibilitada no acolhimento do menino Jesus.  

A terceira grande personalidade é Maria, a serva de Deus, discípula e missionária do Senhor, aquela que teve graças aos olhos de Deus, que nasceu sem a mancha do pecado original, sem a inclinação a tal mal. Seu canto se dá no encontro com Isabel e na alegria de ver e sentir no seu próprio corpo a misericórdia de Deus. Em Maria vemos a grande motivação para com as nossas atuais mulheres, afim de que estas tenham uma busca e sede de Deus, em uma vida simples, humilde e aberta ao projeto de Deus. Por ter tamanha sensibilidade e intimidade com Deus, Maria aceita engravidar-se da Verdade e viver conforme a vontade de Deus. Como Maria somos convidados a preencher a nossa vida da presença de Deus e viver conforme os desígnios divinos, em meio a tantos males acometidos contra a mulher, contra a vida de seus filhos, dos jovens, contra a família. Nesse mundo tecnológico em que as pessoas vivas e as que são mortas se tornam apenas um número ou objeto sem valor sagrado, temos o desafio de lutar pela vida e dignidade das mulheres, das crianças e dos jovens. Seguir o caminho de Maria é acolher a própria existência como dom de Deus e valorizar a existência das outras pessoas independente de sua cultura, religião ou nacionalidade.

O belo canto de Maria segue a mesma orientação do canto de Ana e Isabel. A mesma estrutura que aparece nos outros dois cantos, falando da ação misericordiosa de Deus, do resgate da dignidade de uma vida de humilhação, da contra vontade de Deus aos poderosos e orgulhosos, da elevação aos humildes, da promessa sendo cumprida, são elementos que estão no canto, na exaltação de Maria. Porém, algo significativo no canto de Maria é a convicção de que todas as nações lhe chamarão de bem-aventurada, pois o Todo poderoso fez grandes coisas em seu favor (Lc1, 48-49). A felicidade de Maria está em ser a portadora da redenção. Dela nasce o Salvador. Essas três personalidades marcar a tradição antiga, de opressão, de pecado, de esperança e de libertação verdadeira, extra-histórica do povo de Deus. O ponto central de tal história é Jesus. Agora, depois de todo esse caminho preparativo chegamos ao ponto central de nossa vida, nossos sonhos e nossa fé: Jesus Cristo.

A liturgia de hoje marca de modo decisivo a nossa vida, pois nos transmite a nossa mais bela e importante alegria. Jesus já é anunciado pelos profetas, como o principal deles, a saber, Isaias. Este nos diz: “Desperta, desperta, reveste a tua força, ó Sião! Põe os teus vestidos de gala,(...). Sacode de ti o pó, levanta-te,(...) Desatadas estão as cadeias do teu pescoço, filha de Sião cativa!Sem pagamento fostes vendidos, sem dinheiro haveis de ser resgatados (...)”(Is 52, 1). Eis a profecia do primeiro anúncio, nos convidando a despertar para Deus, pois Ele desceu ao nosso meio para nos salvar. Assim nos diz o profeta sobre Jesus: “Como são belos, sobre os montes, os pés do mensageiro que anuncia a paz, do que proclama a boa nova e anuncia a salvação”(Is 52, 7). Esse menino é motivo de “gritos de alegria”, porque Nele podemos ver que “Deus consolou o seu povo”. Alegria maior não podemos ter na nossa vida cotidiana do que encontrarmos, pela experiência da fé, com o nosso Deus que caminha conosco e perceber que Ele está em nosso meio para nos salvar dessas realidades de trevas e dores, nos livrar da opressão dos poderosos, do apego aos bens perecíveis, ao consumo desmedido, ao pecado que mancha a nossa vida, e não nos dão verdadeira paz.

O profeta nos ensina uma coisa importantíssima para os tempos atuais: purificai-vos!(Is 52, 11). Na sociedade que produziu inúmeros bens de consumo material e espiritual, precisamos nos purificar para servir a Deus, fazer sua vontade. Precisamos nos purificar de todas as coisas que fazem mal ao nosso corpo. Numa sociedade que valoriza o corpo acima de tudo, precisamos lembrar que nosso corpo é um dom de Deus, templo do espírito santo e que precisa ser preservado de todas as coisas que não nos deixam saudável como: os excessos de massa, de açúcar, de sal, de comidas com conservantes, agrotóxicos, e bebidas que prejudicam a nossa saúde. Tanta coisa que nos faz mal. O índice de pessoas com problemas cardíacos, respiratórios, com obesidade, com pressão alta e com diabetes, dentre outros problemas, aumentaram significativamente nos últimos anos. Isso é uma agressão ao nosso corpo. Outra purificação que precisamos é a da alma. O índice de doenças psíquicas como o estresse, a depressão, a síndrome de pânico, está relacionado a aquilo que absolvermos e alimentamos na nossa mente ou alma durante todo o nosso dia: no mundo competitivo e corrido, agitado e inquieto, pouco é o tempo disponível para purificar nossa alma com a oração, com músicas saudáveis, com uma sabedoria que nos dê paz, com o silêncio de Deus. As doenças da alma estão mais agudas e delicadas a cada dia, porque não alimentamos nossa vida com as coisas divinas, com uma vida virtuosa, com a presença de Deus. E se Deus não tem espaço no corre corre da nossa vida, então, como gozar de seus dons divinos?

Por isso, hoje se faz urgente o menino Deus nascer em nosso meio, pois precisamos dele para nos purificar espiritualmente e conduzir nosso corpo dignamente, para sermos verdadeiramente felizes. Jesus é a nossa alegria verdadeira e felicidade sem limite. E hoje todas as coisas convergem para Jesus, pois como diz o salmista “os confins do universo contemplaram a salvação do nosso Deus", porque Deus nasceu em nosso meio, Ele é o esplendor da glória do Pai, a expressão do seu ser. Ele sustenta o universo com o poder de sua palavra” (Hb 1,3) . “E a Palavra se fez carne e habitou entre nós. E nós contemplamos a sua glória, glória que recebe do Pai como Filho unigênito, cheio de graça e de verdade” (Jo 1,14). Cristo é o Verbo divino, ou a Palavra, que entrou na história para nos dar a verdadeira salvação.

Por amor a nós a redenção entrou na história humana para salvar o seu povo. Deus escolheu Maria, da descendência de Abraão, Jacó e Davi. Ela faz parte da linhagem do povo de Deus da tradição hebraica, que sofreu as perseguições dos poderosos no decorrer de sua história. Quando nova Maria ficava em Jerusalém a principal capital de Israel, para o serviço do templo. Após doze anos ela vai para a região mais pobre e explorada de Jerusalém, a Galileia, lá encontra-se com Jose, a quem está prometida em casamento. Todo esse cenário demonstra como Deus realizou o seu Plano de Salvação.  Trata-se de como na história da humanidade, e principalmente nos primeiros povos da descendência de Abraão, Deus manifestou a sua glória.Se ante Deus se manifestou na região periférica de Israel, hoje ele se revela nas periferias da existência humana, nos pobres e abandonados de nossa sociedade.

A interferência de Deus na História é clara e evidente. De uma virgem, Maria, prometida em casamento, é que Deus faz nascer, por obra do Espírito Santo, o seu Menino Deus, nosso Salvador. Aqui observamos a ação direta de Deus para conduzir a História a seu curso. A encarnação de Deus não é uma transgressão da natureza humana, mas sua própria plena realização, pois o Deus menino concedido a nós em reparação dos nossos pecados e em reparação do mundo é plenamente humano e plenamente divino. Observa-se, portanto, que nosso primeiro desafio enquanto seres criados por Deus é ser plenamente humano. Se formos como tal a outra parte que nos falta plenificar-se-á. Nosso desafio na vida é ser plenamente humano, e sendo humano, assumindo a divindade de Deus em nós. Para fazermos esse percurso na realidade atual precisamos seguir Jesus, a começar por onde Ele começou na História. Daí a importância de buscarmos os pobres, ou abandonados, ou excluídos da sociedade, porque estes são os últimos pelos quais Cristo se identificou. Porque Deus sendo tudo, esvaziou-se de Si, para nos dar a sua plenitude. Não á maior amor do que este realizado por Deus. Para que possamos contribuir no processo da redenção precisamos esvaziar-se de nossos pecados, de nossas más inclinações, de tudo aquilo que nos distancia de Deus. Daí se justifica o fato de morremos para o pecado e vivermos para Cristo.

No percurso do nascimento de nosso Deus menino, nenhuma casa, ou hospedaria acolheu a vinda de Jesus, a não ser a estribaria. Nas hospedarias e nas grandes casas não havia lugar para Jesus. Podemos observar que na nossa realidade, quanto mais nos preenchemos de coisas, bens e paixões que nos confortam, muito menos o menino Jesus terá condições de estar em nosso meio. Assim se deu com o homem rico que não acolheu plenamente o Salvador porque não conseguiu se desprender de seus bens. Se Deus não nasceu em um canto que esperávamos, pois não havia espaço para ele, então foi na estribaria que nosso Jesus nasceu. Ele nasce em meio a natureza e aos animais, a princípios foi todas as criaturas, da natureza que receberam o Salvador. Se é em meio a Natureza que Jesus nasce, hoje, precisamos mais do que nunca encontrar a presença do nosso menino na Natureza como fazia são Francisco. Pois ela atualmente está sofrendo com as más ações do pecado social humano. Os pastores que acolheram Jesus eram a classe pobre da sociedade. Como podemos observar estes pobres são os sinais de Deus, e são os que sofrem todo tipo de preconceito e opressão na nossa sociedade. Somente quando quebrarmos essas barreiras veremos de fato o nosso menino no seu momento crucial. Por tanto, atualmente temos três simples e difíceis desafios: converter a nossa vida pra Jesus, resgatar Jesus que sofre nos pobres, nos excluídos, nos abandonados, e, por fim resgatar nosso Jesus na Natureza corrompida.  Jesus nasce hoje e espera por nós, pois Ele é nossa real e verdadeira felicidade, nesta vida e na vida eterna. Feliz Natal para todos.   

   

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Advento: Realidade brasileira, vem Senhor Jesus!

Estamos na reta final do que conhecemos por período do advento, isto é, um período de preparaçãoespera e esperança de “um novo céu e uma nova terra” como observou São João (Ap.21,1) no livro apocalíptico. Um novo Céu que se realiza no presente e que ainda não chegou a sua completude, mas que já atravessou a História e a vida humana do povo de Deus pelo nascimento de Jesus, a nossa luz. Esse momento significativo na história será rememorado e revivido por nós neste Natal de 2015. Jesus é a nossa espera e esperança do hoje, pois sua presença é “para nos salvar” (Is.35, 4) de nossa realidade de morte e nos propiciar a vida eterna.
Nessa expectativa digamos como João: “Vem, Senhor Jesus” (Ap.22,20). A vinda de Jesus Cristo é uma necessidade do mundo, porque atualmente toda “a criação geme em dores de parto” (Rm.8, 22). Nós precisamos de que Cristo renasça como luz na nossa vida: para “curar os abatidos de coração, pregar liberdade aos cativos, restaurar a vista aos cegos, pôr em liberdade os oprimidos e anunciar o ano da graça do Senhor” (Lc.4, 18-19). Hoje, mais do que nunca, precisamos que Cristo, pela força do seu Espírito redentor, renasça em nosso meio, pois estamos diante de situações de trevas, ou morte na nossa realidade brasileira, uma vez que:

a)      A criação do mundo, o nosso ecossistema, ou sistema planetário, é agredido pelo pecado social humana.
Vem Senhor habitar no coração do vosso povo, pois os que possuem poder, bens e honras, no nosso sistema político-social-cultural, estão esquecendo que o mundo é um dom gratuito do amor de Deus. A Natureza não está sendo respeitada, cuidada e utilizada para a subsistência e sociabilidade humana (Gn2, 18) conforme os desígnios de Deus, mas, pelo contrário, é tida como objeto de consumo desordenado e sem uma dignidade própria. Todo o material que temos em nossa casa (nossas roupas, móveis, quartos), toda nossa expressão de vida, existencial- etínica-cultural, todo o nosso perfil cívico-humanitário, é definido e constituído pela nossa relação com a Natureza. Todos os bens materiais que nos caracterizam e contribuem para formação de nossa identidade cultural e civil são extraído da nossa biodiversidade, da nossa natureza, porém nos últimos duzentos anos não houve um limite para tal extração, proporcionando, deste modo, uma degeneração da nossa casa comum, o planeta. Em dois séculos evoluímos tecnologicamente, porém nossas relações sociais, nossos valores humanitários, nossa cultura e identidade particular, foi modificada a tal ponto que nós vemos os bens naturais como objetos para ser consumido e destruídos quando inuteis. Esquecemos a ordem ou curso próprio que segue a natureza no seu processo de manutenção da vida, transgredimos essa ordem e estamos interferindo drasticamente na Natureza, para manter e estender para o mundo todo os nossos bens de consumo.
O que nossos antepassados observavam, respeitavam e cultivavam na sua relação com a Natureza, nós estamos esquecendo e fazendo o oposto. As grandes empresas estão sugando desordenadamente a vida da Natureza, os bens vitais que ela possui, e, deste modo, transformando-os em mercadorias para movimentar um mercado tecnológico que estimula e alimenta na população uma sede insaciável de consumo. Nunca na história humana tivemos tantos bens para ser consumido, porém isso não eliminou um permanente estado de miséria e desigualdade social no nosso país. É absurdo termos tanto bens, seja material e tecnológico, e ainda vermos tanta gente em estado de pobreza, ou desassistidos da sociedade. Isso acontece pelo desequilíbrio que o nosso sistema capitalista-tecnológico produz, ou, especificadamente, pela ganancia dos grandes e poderosos de nosso país que movimentam a economia e a tecnologia conforme seus interesses anti-éticos desregrados, suas paixões, do ter, do ser, e do querer desordenadas.
Se temos muito em tão pouco tempo de História, todavia, existe um custo caro para isso: a destruição do mundo natural, dos seres criados por Deus. As baleias estão sendo mortas, os rios estão sendo contaminados com produtos tóxicos, as arvores sendo queimadas e desmatadas, o planeta terra está em estado de superaquecimento devido o excesso de gás carbônico na atmosfera, a biodiversidade da flora e da fauna está sendo destruída a cada dia. Estamos com falta de água nos rios e açudes. O sistema planetário está fragilizado.  Estamos caminhando para a destruição da criação dada por Deus. Como afirmou o Papa Francisco na Laudato Si: a nossa casa comum (nosso sistema planetário) está passando por problemas por conta de nossas más ações, nosso pecado, que além de atingir o seu semelhante, também está atingindo a Natureza. Ela sofre porque nossos corações estão lacrados para Deus, para Sua palavra, para os sinais da harmonia e fraternidade no mundo dos seres como tão bem se preocupou e respeitou São Francisco.

b)      Os jovens são corrompidos e eliminados pelo tráfico de drogas.
Outra dor que temos, está com os nossos jovens. Não é preciso ir muito longe para percebermos que as drogas estão acabando com as nossas juventudes. Os grandes traficantes estão promovendo um mercado de drogas que a cada dia, a cada hora, torna um belo adolescente, expressão do amor de Deus, em um consumidor dependente químico, o seja, um escravo das drogas e um pequeno traficante. Nos últimos decênios se promoveu silenciosamente uma caça aos jovens para torná-los consumidores, dependentes químicos, objeto do tráfico de drogas ilícitas. Eles são utilizados como trabalhadores-vendedores do comércio de tráfico. São colocados para assumir o crime dos grandes traficantes, pois os adolescentes possuem o estatuto da criança e do menor que assegura seus direitos e os protegem de grandes infrações.
O extermínio das juventudes são sinais que resultam tal mal praticado aos jovens de nossa sociedade. A maioria dos jovens vítimas deste mau são das periferias do nosso país, desassistidos da responsabilidade do Estado e das políticas culturais de inserção e integração social digna. Além dessas situações, são inúmeras as condições precárias que facilitam para que esses jovens sejam presas fáceis do tráfico. A rentabilidade desse mercado ilegal destruidor das vidas juvenis é muito grande. São os grandes que determinam tal maldade para manter esse sistema ilegal do tráfico. A vida de um jovem que entra nesse mundo é difícil e dolorosa. Quando não são escravos do vicio logo de início, são iludidos por uma visão amoral de uma vida fácil e rica de bens em curto prazo, porém o custo de tal benefício é a destruição de sua própria vida e da vida dos outros. As políticas em defesa dos jovens para tal sistema de morte são insuficientes e inconsistentes.  Tal drama assola todo o nosso país, enquanto ainda não se promove uma política e intervenção social que pare com esse sistema ilegal de morte.

c)       A família está fragmentada.
Na sociedade atual, estamos passando por outro elemento de morte no âmbito familiar. A cada dia as famílias estão ficando mais desestruturadas e não são poucas. Se antes os princípios e valores fundamentais de constituição e conservação da família, como o respeito, o serviço, o trabalho coletivo, eram preservados, então, por esse meio, a família mantinha sua estabilidade e dignidade. Os fatores que auxiliavam tal desenvolvimento humanitário-social era à educação cultural, religiosa e humanitária que permeavam esse ambiente e integravam cada membro em um corpo fundamental, fraterno. Porém, atualmente, o nosso sistema econômico, as nossas relações de produção tecnológicas e de consumo, as ideologias antiéticas alteraram o modo de vida das famílias. As instituições governamentais promoveram com o nosso sistema educacional, e com o novo mercado consumidor, uma formação tecnológica e uma alteração nas relações sociais humanas. E esse modelo pós moderno tecnológico deixou aquém os elementos fundamentais de constituição e preservação familiar, e promoveu uma ótica de vida competitiva, individualista, interesseira e determinada pelo sistema e mentalidade econômica. As relações humanas estão sendo desprezadas, e a vida trabalhista se apossou da vida social humana. O sistema trabalhista fragmentou o trabalho familiar e comunitário, além de absolver o espaço necessário para a vivência social, fraterna, cultural e religiosa humana. São poucas as oportunidades que as famílias possuem para si, para sua vivência fraterna e para conservação de seus princípios civis fundamentais. O sistema educativo se reduziu a uma formação profissional em detrimento de uma formação humana. Todos esses fatores, além de outros, estão promovendo uma desestruturação no ethos familiar tradicional. Nessa nova dinâmica de vida, as pessoas estão ficando cada vez mais distante umas das outras e cada vez menos cuida uma das outras. Se a Religião, o Estado e a Escola eram os responsáveis pelo cuidado e manutenção da família, agora vemos indiferença em muitas áreas desses três setores.

d)      Os pobres e excluídos continuam desamparados.
Se a família está fragmentada, os pobres e excluídos se incluem nessa situação de morte, numa perspectiva de abandono, pois estes estão passando por estado degradáveis de vida e dignidade. Vítimas fáceis do sistema, os pobres na maioria das vezes estão nas áreas mais degradáveis do nosso país, nas pontes, nas beira de rios, nos casebres abandonados, nas favelas do nosso país e nas ruas. Eles estão fora da dinâmica comum social, de um modelo de vida padrão, por isso, são desprezados e preconceituados como miseráveis inoportunos. No período da copa do mundo, em São Paulo, muitos pobres e mendigos foram expulsos de sua casa: de baixo das pontes ou regiões de fácil visibilidade, porque os poderosos que sediaram a Copa no Brasil não queriam que os estrangeiros vissem nossos pobres e miseráveis.   Nosso Estado é responsável por cada pessoa que nasce no nosso país, porém não vemos essa teoria se efetivar na realidade, principalmente com os pobres. Não se promovem condições melhores de vida digna para eles.
As políticas públicas não dão assistência suficiente a tais pessoas. Se na tradição bíblica os pobres eram tratados como pecadores e malditos, hoje eles são tachados de vagabundos e inoportunos, uma mancha suja no sistema capitalista social. Em tais condições de risco, nas ruas e praças do nosso país, só a graça de Deus os protegem, pois a polícia os agride, o Estado os desprezam e os maus os oprimem. Eles não possuem nenhuma segurança, dormem nas ruas sem ter a certeza que irão se acordar, comem aquilo que sobra ou que é colocado no lixo dos restaurantes. Não possuem assistência social digna e nem direito humanitário. Escravos das condições desumanas e de diversos vícios, os pobres são desvalorizados e poucos são as pessoas que assistencializam-nos na sua condição de subsistência. Se eles ocupam a terra por necessidade existencial e social, são chamados de invasores, se lutam pelos seus direitos são agressores e vândalos, se brigam por igualdade, são comunistas. O preconceito com o pobre é uma das maiores mazelas que temos hoje. Não lhes são concedidos o direito a terra, a educação, a cidadania, a saúde, a segurança. Os elementos fundamentais de sua dignidade são-lhe negados: como o respeito, o diálogo, a fraternidade, o lazer, a moradia.... As condições desumanizantes porque passam os pobres condicionam a sua vida como um jogo pela sobrevivência e sua manutenção. Tal luta pela preservação da vida a qualquer custo é o resultado da experiência negativas e degradantes que passam. Uma outra lógica da vida perpassa sua existência e transfigura sua personalidade que inverte e elimina os princípios fundamentais da civilidade, da boa convivência e fraternidade. O preconceito, a desassistência, o abandono, a exclusão e repressão do meio social-civil são os elementos negativos que impedem a inserção dos pobres na sociedade. Reparar tal mau é um dos nossos desafios enquanto cidadãos do mundo.  

e)      A diversidade cultural humana é submetida à intolerância e preconceito racial, religioso-cultural.
O Brasil é rico, plural e diversificado na sua cultura. Do Norte até o Sul existe uma diversidade significativa, de hábitos, gostos, estilos e expressões de vida social, que, com a evolução da comunicação, propiciou uma aproximação globalmente virtual de todos os indivíduos. Porém, nossa tradição cultural brasileira é marcada pelo ideal e preconceito dos países externos (Portugal, França, Olanda, África), que contribuíram na constituição do nosso caráter cultural diversificado.  O impositivismo e positivismo do sistema tecnológico capitalista propiciaram um homogêneo modo de vida e uma aversão ao distinto e diferente, isto é, a diversidade cultural humana. Além desse elemento repressivo e alienante, a imaturidade, o preconceito e a desvalorização humana perpassa a nossa vida como uma imposição determinante do individualismo e do fechamento humano ao seu próprio gênero (humano) como resultado do Modernismo no Brasil. Apesar de muita luta e superação pelo valor da dignidade e diversidade cultural brasileira, ainda passamos por uma intolerância cultural velada que assume sua expressão no preconceito racial contra o pobre, o negro, as mulheres, as religiões, as culturas e as regionalidades, dentre outros, do nosso pais.  Os grupos radicais contra o homoafetivo, a exclusão social dos pobres, o salário inferior da mulher em relação ao homem, no mesmo emprego, a chacina em São Paulo e na Messejana, a violência a mulher e abusos no transito, o desprezo, desrespeito e violência pela pessoa idosa, tudo isso, são sinais do preconceito e da intolerância social que passamos. As religiões fundamentalistas e radicais conservadoras também são promotoras de tal intolerância e preconceito. Lutar pelo direito e valoração da pessoa humana, independente de sua condição econômica, cultural, social e política são passos que precisam ser conquistados. Olhar a pessoa humana com misericórdia e resguardar seu direito e sua dignidade é nosso principal desafio, para superar nossos preconceitos e as imposições externas que nos assola. Pois não tem como fazê-lo sem superar as limitações e preconceitos enraizados na nossa cultura diversificada e no nosso modo de vida e nas formas determinantes de preconceito e repressão.  

f)       As cidades vivenciam a violência urbana
A violência urbana é outro problema que está atingindo nossa população brasileira. Fortaleza foi considerada a capital mais violenta de 2014. As inúmeras mortes, homicídios, assaltos e casos de agressões nos últimos tempos demonstram o quanto nosso pais está desordenado e carente das suas verdadeiras necessidades humanas, fundamentais na promoção de uma sociedade civil, equilibrada, segura, humanitária e de qualidade. O excesso de trabalho exploratório, o desequilíbrio econômico e social, a perda dos valores e ética social da civilidade, o preconceito desregrado, o estresse intenso, o sistema irregular de trânsito, o tráfico de drogas, a corrupção política e civil, a concorrência comunitária e a valorização pelo status, o individualismo, o hedonismo frenético, as ideologias de competição e de morte implantadas na vida das pessoas, a falta de formação humanitária e produção cultural fraterna, são fatores que contribuem para o aumento da violência no nosso país. Diante de tais fatores acrescenta-se uma orientação brasileira maquiavélica que promove ilusoriamente a saciabilidades das necessidades humanas por vias incorretas, ilegais e rápidas. Tal fenômeno é propício para que a desordem e desequilíbrio atinjam a vida da população, gerando a chamada violência urbana. O medo, a ansiedade e a desconfiança são travas consequenciais de quem é atingido pela violência urbana. tais elementos interferem e prejudicam a dinamicidade regular populacional. Junta-se a isso as greves, a corrupção e a injustiça no setor de segurança pública, a ausência de uma cultura de paz, fraterna e solidária.  Muito se promoveu a implantação de esportes e cultura para sublimar tal problema social, porém sem a estimulação de uma consciência de paz e fraterna, pouco vemos progresso para a diminuição da violência no nosso pais, nos últimos anos. Enfim, as condições, limitações e carências do nosso sistema governamental, político e social são estimuladores ativos de tais problemas. Não se pode desconsiderar a irracionalidade humana no aumento da violência, porém, de fundamental importância são as condições que propiciam esse problema e estimulam na população uma ideologia de violência como meio maquiavélico para obter bens necessários e desnecessários para o homem.   

g)      Os cidadãos sofrem com a dinâmica impositiva esquizofrênica de consumo e a inflação econômica de custo.
Nosso atual sistema capitalista tecnológico é movido pelos trabalhadores que o mantém, na produção de bens de consumo, e pelo consumidor que necessita dos produtos do comercio para sua subsistência. Porém, para que o mercado venda seus produtos, os necessários e desnecessários para o cidadão-cliente-consumidor, ele promove pelos meios de comunicação e propagandas os estímulos e imposições ideológicas ao cliente para que este se mantenha consumindo todos os produtos do mercado.  Não precisamos ir muito longe para vermos as inúmeras falsas ofertas (emparcelamento de compras, empréstimos, cartões de créditos, etc) para que nós consumamos mais e mais. A ideia de criação de um negócio próprio é uma forma de extensão das grandes empresas para venderem seus produtos e manterem os clientes consumindo. Esse é o determinismo do nosso sistema capitalista que precisa de trabalhador e consumidor para se manter. Para manter a economia girando é preciso consumir. Daí somos bombardeados e pressionados todos os dias a consumir. Isso está virando o hábito da população: um consumo esquizofrênico.  Se por um lado estamos sendo induzidos e pressionados ao consumo, por outro, os bens realmente necessários para nós sofreram uma inflação de custo de 10,71%, isto é, os produtos fundamentais para nossa subsistência, como os alimentos e bebidas, estão com um custo maior que o normal. Isso só poderia acontecer para equilibrar o aumento do salário, porém, desde 2011 que não temos um aumento de salário significativo. Isso quer dizer que estamos ganhando relativamente o mesmo, entretanto, gastando mais. Se as empresas afirmam que está havendo uma crise, essa crise é da maioria da população consumidora brasileira que está pagando o pato e limitada pelas condições impositivas de consumo. Um novo modo de consumo e produção alternativa se faz necessário.

h)      Vem Senhor Jesus.
Enquanto estamos neste mundo precisamos responder a tais problemática sociais que estão estreitamente relacionados. Precisamos dar nossa resposta, pois a responsabilidade e cuidado, ou boa administração com este mundo criado por Deus, é uma exigência que bate a nossa porta e cobra de nós uma ação. É o modo como vivemos e agimos nessa realidade que determina a nossa salvação, daí ainda hoje e sempre a presença de Jesus se faz necessária, para nos salvar (Is.45, 22), pois só Ele é a luz (Jo.1) que pode nos mostrar como prosseguir neste mundo segundo a vontade de Deus(Mt7,21-23). Não tenhamos medo dos desafios e problemas, mas tenhamos esperanças e nos preparemos para que neste Natal Cristo renasça nos nossos corações, na nossa vida e prática social, pois Ele vem para nos libertar dessas condições de morte e nos dar a vida eterna. Alegremos nessa expectativa, pois Cristo é “uma rocha protetora para cada um de nós” um abrigo bem seguro que nos salva, nossa força, amparo, refúgio, proteção e segurança (Sl. 70), que “fará justiça e retidão a terra” (Jr.23, 5-6) e, nesse Natal, será nossa luz, nossa alegria, nossa esperança e salvação que vai nos ajudar nesta vida a fazer a vontade de Deus. Esperemos o Cristo, pois ele vem e transformemos essa realidade de morte em vida em abundância!

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

A questão que importa está no hoje e no agora, antes da morte!




Dois dons que Deus nos concedeu em sua infinita bondade é: a vida e a morte. Até então, e sempre será assim, ninguém a não ser Deus nos deu o dom da vida a partir do nada (Gn1,1). A vida é um milagre do amor gratuito de Deus, e só Ele dá a vida, apesar de nos dar a liberdade de poder tirá-la. Mas isso só acontece por consentimento de Deus e de mais ninguém. Apesar de isso parecer estranho aos nossos olhos: nem um só fio de cabelo cai de nossa cabeça sem a vontade ou o consentimento de Deus.
A morte é outro dom divino. Há quem diga que a morte humana é o fim de tudo, porém, para nós cristãos a morte nada mais é do que a desintegração deste corpo mortal e limitado. Portanto, participamos de duas realidades que foram feitas por Deus, que se relacionam estreitamente, mas são distintas entre si. Uma é realidade material, que é frágil e finita, como o nosso corpo físico, e outra é a realidade imaterial, infinita e eterna, a nossa alma. 
Até então só temos duas certezas: que somos obras vivas de Deus e que um dia, talvez, menos do que esperamos, a morte virá visitar nosso corpo. Para quem não acredita em Deus a morte é o fim, o desespero. Mas para nós que acreditamos em Deus, a morte é uma passagem, ou libertação da alma deste corpo mortal para outra realidade imaterial, invisível aos olhos humanos. Para muitos o problema está na morte, e, por isso, é preciso fugir dela o máximo possível. Porém acredito que a questão que importa não é a morte, pois esta é inevitável em nossa vida e é algo realizado ou consentido aos olhos de Deus.
A questão que importa está no hoje e no agora, antes da morte, pois o modo como nós vemos o mundo e vivemos no mundo é decisivo para o nosso futuro pós-morte. Os santos estiveram tão firmes no presente que ganharam no futuro, pós-morte, a eternidade. Ora, se estamos no hoje então uma coisa é decisiva para a nossa vida eterna e plena: o amor a Deus manifestado na pessoa de Cristo (Lc10, 27), a prática de sua vontade tal qual ele fez para com Deus Pai (Jo6, 38) e o amor ao próximo. Nisto consiste a nossa salvação e felicidade na eternidade. Se estamos em amizade ou amor com Cristo, com Ele ressuscitaremos.
O amor a Deus é algo tão importante e decisivo na nossa vida que São Paulo chega a nos falar:
“E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria”. (1 Co13, 2,3)
A única coisa que pode preencher a nossa vida aqui e agora e para todo o sempre é Deus, pois “Deus é amor.[E] nisto se manifestou o amor de Deus para conosco: que Deus enviou seu Filho unigênito ao mundo, para que por ele vivamos” (Jo4, 8-9). E quem ama a Deus, O conhece, e O conhecendo, verdadeiramente, O ama e irá querer fazer a Sua vontade.  
O sentido profundo de nossa vida é este. Por isso Santa Terezinha disse que queria ser ‘o amor’, e será pelo amor a Deus que traduzido em prática viva, seremos salvos e ressuscitaremos. Quem busca a Deus verdadeiramente é arrebatado pelo seu amor. São Francisco contemplou o amor de Deus e foi muito mais feliz do que muitos homens. Santa Faustina viu o coração de Jesus em chamas eternas e não pode resistir. Santo Afonso pedia constantemente a Deus que não lhe faltasse o seu amor.
Assim, a nossa esperança da eternidade está no Belo amor encarnado: Jesus Cristo. Que tenhamos a mesma esperança que Jó: “Eu sei que o meu redentor está vivo e que, por último, se levantará sobre o pó; e depois que tiverem destruído esta minha pele, na minha carne, verei a Deus. Eu mesmo o verei, meus olhos o contemplarão, e não os olhos de outros” (Jó 19, 25). No Senhor está nossa esperança, pois Ele, o Belo amor, “é minha luz e salvação” (Sl26). Quem ama a Deus na pessoa de Cristo e busca fazer a sua vontade, este não morrerá, mas ressuscitará. São Paulo (Rm8,31-39) nos assegura essa certeza para quem busca e prova o amor de Deus e realiza a sua vontade:
Diante de tudo isso, o que mais podemos dizer? Se Deus está do nosso lado, quem poderá nos vencer? Ninguém! Porque ele nem mesmo deixou de entregar o próprio Filho, mas o ofereceu por todos nós! Se ele nos deu o seu Filho, será que não nos dará também todas as coisas? Quem acusará aqueles que Deus escolheu? Ninguém! Porque o próprio Deus declara que eles não são culpados. Será que alguém poderá condená-los? Ninguém! Pois foi Cristo Jesus quem morreu, ou melhor, quem foi ressuscitado e está à direita de Deus. E ele pede a Deus em favor de nós.Então quem pode nos separar do amor de Cristo? Serão os sofrimentos, as dificuldades, a perseguição, a fome, a pobreza, o perigo ou a morte? Como dizem as Escrituras Sagradas:“Por causa de ti estamos em perigo de morte o dia inteiro; somos tratados como ovelhas que vão para o matadouro”. Em todas essas situações temos a vitória completa por meio daquele que nos amou. Pois eu tenho a certeza de que nada pode nos separar do amor de Deus: nem a morte, nem a vida; nem os anjos, nem outras autoridades ou poderes celestiais; nem o presente, nem o futuro; nem o mundo lá de cima, nem o mundo lá de baixo. Em todo o Universo não há nada que possa nos separar do amor de Deus, que é nosso por meio de Cristo Jesus, o nosso Senhor.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

A outra face do Amor personificado: a justiça, que é profética.


Ultimamente no período litúrgico está muito presente, apesar de ser pouco observado e meditado por muitos de nossos comentadores da palavra de Deus, a figura de profetas. Jonas, Malaquias, Joel, são alguns profetas que estiveram presentes na liturgia desse mês missionário. Porém, queria falar do maior profeta que já tivemos na história humana e de fé do povo de Deus: Jesus nazereno, o Cristo. Se a proposta irresistível de Cristo é a redenção da humanidade pelo seu corpo e sangue imolado, isso não seria possível sem outro meio fundamental: a profecia.

O redentor e o profeta são duas características de uma só pessoa e não tem como entender o projeto salvífico de Cristo sem esses dois sinais divinos. Isso é tão certo na tradição da igreja, pois nela observamos que Deus tanto é infinitamente e abundantemente misericordioso assim como também é justíssimo. Aqui nos deparamos na verdade com a outra face do Amor personificado: a justiça, que é profética.

Na comunidade de Lucas (11, 42-46) vemos os sinais de nosso belo amor e profeta nazereno se referindo aos fariseus e membros da alta classe religiosa nos seguintes termos: “Aí de vós, fariseus, porque pagais o dízimo da hortelã, da arruda e de todas as outras ervas, mas deixais de lado a justiça e o amor de Deus”. Se no começo da missão Jesus anuncia e é testemunha viva do reino de amor do Pai, isso não está separado da grande hora de Cristo: a hora da profecia, da denuncia, da justiça.

O amor de Deus pelo homem fez o filho de Deus descer para nosso meio. Agora é o mesmo amor de Deus pelos seus pequeninos, excluídos e mais abandonados que faz Cristo denunciar as injustiças praticadas pelos mestres da Lei e fariseus dentre outros. Pois estes deveriam acolher os abandonados, os excluídos e marginalizados, ou ditos pecadores, da época, tal como o próprio nazereno fez e até disse que fizessem (“E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te?E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes” Mateus 25,39-40).

Jesus não estava contra a lei judaica, mas afirmava que cumprir a lei e esquecer o próximo, ou não praticar a misericórdia para com os mais abandonados, era o mesmo que se desviar da essência ou função principal da lei. Deus fez a lei para que o coração do homem se tornasse mais humano e divino, para que o povo de Deus não esquecessem os caminhos do Senhor (a verdade e o amor), porém, a preocupação com a lei simplesmente pela lei, o endurecimento do coração, ou seja, a insensibilidade para com o próximo, o estrangeiro, a viúva, o órfão e muitos outros, foram coisas que afastavam do projeto de Deus aqueles que deveriam estar mais próximos de Deus: os sacerdotes, os doutores da lei e os fariseus.

Jesus critica esses por serem vaidosos e egoístas, ou seja, por quererem “o lugar de honra nas sinagogas, de serdes cumprimentados nas praças públicas”, e de contra ponto colocarem “sobre os homens [leigos, pobres e excluídos] cargas insuportáveis”. Até então demonstramos o suficiente da ação profética de Cristo que se realizou em vista do seu amor. As consequências disso tudo é a morte do Cristo, pois quando ele começou a tocar na ferida das paixões humanas, da vaidade, do egoísmo e outros pecados cometidos pelo próprio líderes da época, o Cristo foi negado e, condenado a morte de cruz, se entregou pelo seu infinito amor e pela sua divina justiça por nós. Essas duas coisas o fizeram da à vida pela salvação daqueles que o aceita e o acolhe.

Que este pequeno texto possa nos ajudar a refletir se o anuncio da redenção, do amor de Cristo o qual vivemos e anunciamos está de fato experienciado e testemunhado junto com anuncio da justiça reparadora cristã que não abandona ninguém e luta contra as injustiças do pecado humano.

sexta-feira, 31 de julho de 2015

229 anos de um artista de mão cheia:Santo Afonso.



É com grande alegria no coração que hoje, dia 01 de agosto, comemoramos 229 anos da pascoa de um belo homem napolitano, valioso artista, literato, teólogo e amante das belas artes, chamado de Afonso Maria de Ligório. Queria dedicar esse pequeno texto aos membros da Congregação do Santíssimo Redentor e àqueles que se encantaram pelos inspirados escritos, ensinamentos e belas canções desse artista clássico italiano.  Enquanto muitos fazem um recorte e comentário da biografia deste Santo, que considero como “Pai espiritual”, aqui, gostaria de refletir algumas linhas sobre as belas canções musicais deste artista de mão cheia em paralelo com a sua trajetória de vida, seus desafios e esperanças, que poderia nos iluminar no nosso itinerário Missionário e nos desafios da nossa realidade brasileira.
Não é a toa que meu “Pai” desde pequeno, antes de ser sacerdote, era um belo amante da música italiana, da pintura e das salutares literaturas, pois tais artes enriquecem a nossa mente, frutifica a espiritualidade e movimenta a alma. Desde à Grécia Antiga que se percebia a importância de tais artes, que mantinha viva e espirituosa a vida das pessoas. E Santo Afonso, como prendado religioso e belo artista que era, soube muito bem aproveitar esses dons artísticos no enriquecimento de sua fé e no processo de evangelização. Desde cedo ele foi formado nas belas artes assim como para os mais importantes cargos da vida civil, como a advocacia. Porém, ao contrário de hoje, a riqueza de Santo Afonso não estava nos cargos elevados, mas no serviço aos outros, aos pobres e desamparados, pois foi por esse intento que ele se tornou advogado com apenas 16 anos. Se Santo Afonso se serviu de seu talento para o serviço e cuidado aos desassistidos de sua época, quanto mais nós deveríamos utilizar de nossos talentos para o cuidado e serviço aos que estão em estado de abandono seja da fé em Deus, seja das esperanças e sonhos de uma vida feliz, ou seja do abandono da própria sociedade que exclui ou recrimina. Cantor, compositor, desenhista, pintor e pianista, são esses alguns dos talentos deste belo “Pai espiritual”.
Tais talentos estavam voltados para utilidades práticas da vida: resgatar e elevar a dignidade das pessoas, salvaguardar o valor da vida e enriquecer a espiritualidade humana. Do canto se elevava a alma, da letra se apreendia as verdades da fé cristã, do desenho se guardava a imagem do redentor, da pintura se dava vida aos símbolos da nossa fé, da melodia se conduzia a alma para experimentar a Deus. Quem sabe, nesse mundo tecnológico, tão virtual e abstrato, não estamos esquecendo as belas artes que enriquecem a nossa vida, assim como talvez não estamos esquecendo os elementos fundamentais das virtudes cristãs como a fé, a caridade e a fortaleza, dentre outros. Santo Afonso não se esqueceu das belas artes e muitos menos dos mais abandonados, mas pelo contrário, tudo estava em sintonia para um único fim: A redenção. Pois o próprio ato da criação é um ato da redenção, assim como também é o projeto da salvação.
O Pai Afonso entendeu como ninguém a Deus, por isso quis “continuar o redentor” e se serviu “de seus talentos” para cuidar, salvar e redimir os mais abandonados do mundo. E nós, nesse belo dia, quem sabe não precisamos retomar os passos do nosso Pai? Para se encontrar com o Cristo e com o outro.  As belas canções deste “Pai artista” são alimentos para a alma, instrumento imediato de evangelização e alegria ao coração. A canção “Tu desces das estrelas” são ricas de uma fé espirituosa que contemplam os primeiros relatos literários-poéticos do nascimento do filho de Deus. Este mesmo Deus Santo Afonso encontrou nos Hospitais dos incuráveis e nas ruas dos pobres Lazarones, que estavam como o menino Jesus: em “quão grande pobreza” social e espiritual. Se Santo Afonso olhou para Jesus e o viu “nascer na gruta do Frio agreste” assim como o viu nos “cabreiros de Scala”, onde será que está o nosso menino Jesus hoje? Nas ruas?No tráfico? Nos orfanatos? Ou quem sabe até mais próximo de nós: em toda criança a qual é tomada a dignidade ou o direito da vida?!  A canção “Calaram os Céus a sua harmonia” é um deleite na contemplação da “tão divina [e] a virgem mais bela”: Maria. Nosso Pai amou-a profundamente e sempre deixou um razoável espaço para Maria no seu coração. Será que as outras Marias (joanas e antonias, dentre outras) de hoje estão tendo espaço, valor e direito na no coração da sociedade?

A canção “Não és para mim ó mundo” em si já diz o quanto que o nosso “Pai” não compartilhou com o a dinâmica injusta e desigual do mundo. Isso deste seu primeiro caso nos tribunais napolitanos, quando percebeu a falta de honestidade e as injustiças que aconteciam nos julgamentos, tal como hoje. É bem claro isso nas suas palavras, depois de perder uma tão grande causa: “Mundo, agora te conheço”! Foi percebendo isso que Afonso se tornou advogado de Deus e procurou seguir sua Lei a risca (“Amai-vos uns aos outros”) continuando o redentor. Por último, a canção “Agradar-te é meu desejo” é uma bela melodia que demonstrou o intimo de Santo Afonso: a grande vontade prática de agradar a Deus. Isso ele incessantemente buscou na sua vida, desde quando abdicou de uma vida de luxo e quando escreveu a teologia moral, para ajudar seus confrades a bem conduzir a humanidade ao senhor e a uma vida dignificante. Que nosso Pai nos ensine cada dia a bem servir a Deus e fazer sua vontade nos dias atuais.

domingo, 26 de julho de 2015

O sentido profundo da existência.

            Muitas pessoas não param para pensar naquilo que há de mais belo nesse mundo, aquilo que é dom de Deus, um presente gratuito, que está tão perto de nós, mais tão perto, que na maioria das vezes não percebemos e nem valorizamos corretamente: a nossa existência! Normalmente o motivo de não pensarmos sobre isso, como sobre um monte de coisas é porque corremos tanto e somos tão práticos que não pensamos sobre as coisas, mas isso só acontece até quando a sentimos em nós. Não pensávamos na paixão até quando nos apaixonamos, não pensávamos na fome até o dia em que a sentimos, não pensávamos em amigos até o dia em que tivemos. Isso nos leva a pensar: será que estamos sentido a nossa existência? Será que estamos nos percebendo? Será que estamos experimentando a nossa vida na sua beleza divina? Acredito que sentir e pensar sobre a nossa existência pode nos ajudar a bem viver antes que ela chegue ao seu fim neste mundo, pois Quem nos presenteou com a vida, um dia e até contra o nosso gosto, vais retomá-la para junto de Si. Por isso, mais do que nunca deveríamos nos preocupar para saber como estamos gastando a nossa vida. Pois existe algo essencial sem o qual perderíamos o sentido mais profundo e mais prazeroso na nossa existência: o amor. Pena que na maioria das vezes só percebemos isso quando passamos pelo limite da vida. Três exemplos podem nos ajudar a perceber isso: se fossemos condenados a perambular no deserto até a morte, não existiria mal maior do que morrer sozinho. (engraçado: foi assim que Cristo se sentiu na cruz por amor a nós), se fossemos abrigados (as) a dar a vida por algo que teríamos de mais precioso: esse algo seria aquilo, ou alguém, que mais amamos (surpreendente: não foi isso que o belo Jesus fez na cruz?!) Se perguntássemos a qualquer pessoa quem ela escolheria para estar junto eternamente: com certeza seria quem ela amaria, e não seria só uma (Não tem como fugir: Por isso que Cristo nos prometeu a eternidade). Não foi atoa que Jesus colocou como mandamento primordial: O AMOR. Sem esse Dom precioso a nossa existência perde o seu sentido, pois com o tempo, vamos percebendo que nossas forças vão acabando. Não reagimos com o mesmo vigor, aliás, a cada dia vai diminuindo. Os cabelos vão caindo. A fragilidade aumentando. A memória debilitando. Em fim: quase tudo vai passando. O que nós fizemos fica para os outros e para nós não terá mais valor, mas somente uma coisa ainda vai ficar conosco, e isso vai fazer toda a diferença de estarmos felizes e sermos felizes para sempre: o amor, pois esse é o preço da eternidade onde se encontra a sua fonte: Jesus.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Uma Fé que inquieta.

A tradição da Igreja nos confirma a necessidade de um momento de parada, na caminhada da vida, para acalmarmos nosso coração, rezarmos e entrarmos em sintonia ou intimidade com Deus. Por esse percurso é possível rever a caminhada e descobrir o que Deus quer de nós, ou como falou uma amiga minha: “o que pulsa mais forte no nosso íntimo”. Para que não nos detenhamos somente em parte desse processo espiritual, apresento um ponto posterior que completa este: falo de uma inquietação na qual nossa alma é afetada. Se por um lado temos paz de espírito ao contemplamos a presença de Deus, e isso é necessário, por outro, não tem como não agitar nosso espírito quando somos afetados pelo amor de Deus.  Isso porque a experiência com Deus segue essa dinâmica completa, pois se Moisés tivesse ficado no deserto contemplando Deus na sarça ardente, ele não teria conduzido seu povo para libertar-se do Rei do Egito (Êx 3, 1-8 ), se  Maria não tivesse corrido para casa de sua parenta Isabel,  ficando o tempo necessario para Izabel ter Joao Batista, quem sabe ela teria sido apedrejada antes de Jesus nascer (Lc 1,39), se os apóstolos tivessem ficado contemplando a subida de Jesus ressuscitado (Atos1, 9-12), nós não seriamos cristão. Mas tudo isso pra dizer que “A experiência com Deus também nos inquieta para uma ação transformadora”. São tão infinitos os motivos dessa inquietação, quanto sao infinitos os mistérios de Deus. Porém, o que mais nos deveria tocar e o que mais nos deveria inquietar deveria ser o amor de Deus. Pois este age nas nossas entranhas, dilacera os nossos rins, ou como diz o Papa Francisco na Alegria do evangelho: rasga o nosso coração. Umas das primeiras coisas que poderia nos inquietar é perceber que Cristo, Deus encarnado, morreu por amor a nós (Mt 26, 26-30) . Foi seu amor que nos concebeu a vida (Jo 6, 52-54) e é seu amor que nos mantem (Jo15, 9-15), tal como aconteceu com Lázaro (Jo 11, 21-48). Não tem como não ser afetado diante de alguém que dá a vida por nós e se isso não nos inquieta, deveríamos repensar se estamos de fato tendo uma experiência com Cristo, tal como teve Santo Agostinho, Santa Tereza, São João da Cruz, São Francisco, Ir. Dorothy e a serva de Deus: Ir. Dulce. Outra coisa que poderia nos inquietar é o chamado de Deus. Deus não só se deu por nós, assim como faz na Eucaristia todo dia, mas também nos chama, assim como chamou Samuel (1Sm3, 1-9), Maria (Lc 1:27), Santa Clara, Madre Gertrudes de São José e a Ir. Josefina. O seu chamado é para trabalhar na sua vinha (Mt 20, 1-16), ou seja, no Reino. Se um operário se preocupa ou se inquieta com o trabalho que tem que fazer, quando mais nós, para alguém de tamanha importância. Outro ponto que poderia arrasar o nosso coração por alguém que tanto nos ama como Jesus é que Este está no outro e de modo especial: em todo aquele que sofre (Mt 25, 35-46). Se não nos inquietar o nosso coração para quem nos ama mais do que qualquer um, como Jesus, que se encontra de modo misterioso no outro que sofre, então fica difícil saber se estamos aproveitando nossa experiência intima com Deus. Está mais do que provado que a nossa intimidade com Cristo precisa passar por esta experiência de inquietação e de movimento, que atualmente traduzimos como Missão. E isso a exemplo de muitos bons cristãos santos como o Pai Afonso que não queria desperdiçar um minuto sequer da sua vida que não fosse fazendo a vontade de Deus. Dai-nos Senhor a graça de poder se esforçar pelo teu Reino, pois existe uma distancia infinita entre o que o Teu amor fez por nós e o que nós fazemos por Ti todos os dias. 

domingo, 12 de julho de 2015

Uma palavra diz tudo.

O Amor! Há um bom tempo queria escrever algumas ideias sobre este tema, porém só agora tenho a disposição para fazê-lo. Não é muita novidade o que irei falar, porém acredito que vale a pena refletir e tomar uma consciência prática sobre tal tema. Com toda segurança posso dizer que o sentido maior e mais profundo da nossa existência se resume em uma palavra: AMOR. Para nós, cristãos, ela é muito mencionada, apesar de não ser suficientemente vivida. Se algum dia destruíssem a palavra de Deus, uma única palavra seria suficiente para salvar nossa fé e nossa vida: a palavra “AMOR” (Jo 13,35.), pois toda a história da bíblia e toda a trajetória do povo de Deus é uma manifestação de Amor. Por que foi que Deus criou o homem?( Gn 1, 26-27)Por que Abraão intercedeu a Deus pelo povo de Sodoma e Gomorra? (Gn  18, 17-31) Por que Cristo se encarna como humano para estar junto de nós?(Lc 1, 26-39). Não tem palavra mais próxima de resposta do que essa: “AMOR”.
O sentido dessa palavra na história humana é variado conforme cada época, porém, limito-me a refletir sobre essa palavra nos três significados que compõe a tradição Grega. Amor como “eros”, amor como “philia” e amor como “ágape”. Acredito que esses três conceitos fazem parte de nossa experiência humana e também divina. O amor “eros” é amor conforme à natureza. A tradição dos Padres da Igreja colocaram esse amor como amor atrativo que nos condicionam para reprodução da nossa espécie. Por tanto faz parte de um amor sexual. É mais instintivo. Muita gente trata isso como problemático, ou tenta negar isso, porém é somente em função desse amor que se possibilita a perpetuação da existência humana. Os limites da vida consagrada religiosa propõe uma orientação específica sobre isso.  Porém, independente de cada opção de vida, essa espécie de amor faz parte de nossa existência, nos toca e nos afeta como qualquer humano.
Isso não é problema, mas um dom natural concedido por quem nos fez: Deus. E deve ser tratado com toda sua dignidade e respeito. Pena que muita gente ainda não consegue  ver como dom divino a sua humanidade. O amor “eros”, muitas vezes tão tenso, inquieto, intenso, e dinâmico  é como um vulcão que tem sua dinâmica própria, independente de nosso querer, pois faz parte de nossa natureza. Essa espécie de amor tem seu valor significativo, porém não é o grau mais profundo e elevado da existência humana.
O segundo amor “Philia” ou “Filia” é uma amor fraterno. É também de nossa natureza, pois somos pessoas sensíveis, porém não está condicionado independentemente de nossa vontade. É uma amor de amigo. A sublimidade de sua beleza está na virtuosidade com que é construído e se mantém. Essa espécie de amor é fundamental para boa convivência. Nós religiosos precisamos muito desse amor. Pois não tem como se sustentar nos impasses da vida sem o amor fraterno. Infelizmente atualmente não é tão fácil construir esse amor, pois são muitos os receios, medos e frustrações. Quem mais se entrega a esse amor pode muitas vezes sair bem machucado, porém vale a pena quando se encontra uma verdadeira amizade. Pois elas perduram por toda eternidade. Esse amor de amigo está em grau superior ao amor “eros”, porém a existência de um não implica a negação do outro.
O amor “Ágape” é o sonhado por todos e quem sabe o mais difícil de se ter. É superior aos demais. É um amor puríssimo e belo. Para não se ter uma compreensão limita desse tipo de amor é bom perceber que este amor não está, separado dos demais, em um mundo nunca ante visto. Ele é puro, em sua perfeição e bondade, porém, isso não implica que ele não participe dos outros dois tipos de amores. Esse amor é puro, pois é incondicional. Ou seja, não está determinado pelo outro, pelos sentidos, pelos instintos, pelo exterior, mas pela sua própria essência: ser “AMOR”. Santa Terezinha buscou ele. E viveu feliz como ninguém. Esse amor Ágape não é instinto e nem fraternidade, mas é a fonte do instinto e desejo que gera a vida assim como também é a fonte da boa convivência e fraternidade humana.  O “ágape”é o amor da plenitude humana, pois uni o diferente, harmoniza os opostos, gera vida onde há morte e dá eternidade ao limite do tempo. Nosso maior desafio não é buscar um dos três amores, mas na dinâmica da vida, nas limitações da nossa existência, perpassar a todos  os tipos de amor e alcançar o ponto mais profundo de nossa existência que se depara com o sublime. O maior exemplo dessa experiência de amor é o belo Cristo: Ele passou pelos três estágios do amor. Vou logo dizer: Ele próprio era o AMOR ENCARNADO E INCONDICIONAL: SÓ UM AMOR PURO LUTA PELA UNIDADE DA FAMÍLIA (Mc 10, 9), PELA FRATERNIDADE E AMIZADE HUMANA (Jo 15, 14-16), SÓ UM AMOR PURO NÃO DEIXA DE AMAR QUANDO ESTÁ SENDO ASSASSINADO (Jo13, 1). SÓ UM AMOR PURO SE ENTREGA PARA DAR AVIDA ETERNA A TODOS QUE O ACOLHEM (Jo 3, 16), POIS AINDA NÃO ENTREGOU A VIDA A TODOS PORQUE NEM TODOS O QUEREM (Jo 1, 9-12).

domingo, 10 de maio de 2015

Mãe: Um Dom divino.

Mãe: Um Dom divino.

Eu cheguei sem nem falar
Ela estava a me esperar
Quando comecei Gritar
Ela veio me pegar.

Os meus olhos foram abrindo:
Mas quem era essa pessoa
Que me dava de mamar
Pra lá e pra cá, a me embalar?

Não sabia quem era ela
Mas senti, até, então:
Que era muito especial
Pois me apertava ao coração.

No seu seio eu fique
Não queria dela  largar
E quando ela eu não via
Começava a chorar.

Com o tempo fui crescendo
Aprendendo a caminhar
Mas, não perdia a oportunidade
De no seu peito ir mamar.

Ela sempre me ajudava
Toda vez que precisava
Me trocava, me vestia
Me banhava, me nanava.

Muitas vezes eu a fiz
Se preocupar e até chorar
Pois (Ela) tinha medo que na vida
Eu viesse me machucar.

Eu levava beliscão
E até, também, uns gritos
Pois sua paz, eu que tirava
E Ela brigava comigo.

Com o tempo fui sabendo
Que sua reclamação
Tinha muito de temor
E cuidado de montão.

Ela muito reclamava,
E me enchia de conselho
Eu percebi que por trás estava
O Grande Amor que trás ao peito.


Ela é esplendorosa
Cativou meu coração
Ela é jóia preciosa
Ela é a minha Mãe.

Quando olho para Ela
Vejo a marca de Deus
Pois só tão sublime obra
Pode se assemelhar a Deus.

O Belo Deus que fez a vida
Minha Mãe vida gerou
Quando nasci de seu ventre
Preenchido de amor.

O Belo Deus fez alimento
Que na Natureza está
Minha Mãe tinha em seu seio
O leite para amamentar.

O Belo Deus quando nos fez
Já nos amava então.
Minha Mãe quando me teve
Me amou de coração

O Belo Deus deu Sua Vida
Para poder nos Salvar
Minha Mãe gastou sua vida
Para Eu feliz estar.

Em toda Mãe vejo o sinal
De beleza e Carinho
Isso é mais que especial
Pois Ser Mãe é um Dom divino.


Isaias Mendes Barbosa