sexta-feira, 31 de julho de 2015

229 anos de um artista de mão cheia:Santo Afonso.



É com grande alegria no coração que hoje, dia 01 de agosto, comemoramos 229 anos da pascoa de um belo homem napolitano, valioso artista, literato, teólogo e amante das belas artes, chamado de Afonso Maria de Ligório. Queria dedicar esse pequeno texto aos membros da Congregação do Santíssimo Redentor e àqueles que se encantaram pelos inspirados escritos, ensinamentos e belas canções desse artista clássico italiano.  Enquanto muitos fazem um recorte e comentário da biografia deste Santo, que considero como “Pai espiritual”, aqui, gostaria de refletir algumas linhas sobre as belas canções musicais deste artista de mão cheia em paralelo com a sua trajetória de vida, seus desafios e esperanças, que poderia nos iluminar no nosso itinerário Missionário e nos desafios da nossa realidade brasileira.
Não é a toa que meu “Pai” desde pequeno, antes de ser sacerdote, era um belo amante da música italiana, da pintura e das salutares literaturas, pois tais artes enriquecem a nossa mente, frutifica a espiritualidade e movimenta a alma. Desde à Grécia Antiga que se percebia a importância de tais artes, que mantinha viva e espirituosa a vida das pessoas. E Santo Afonso, como prendado religioso e belo artista que era, soube muito bem aproveitar esses dons artísticos no enriquecimento de sua fé e no processo de evangelização. Desde cedo ele foi formado nas belas artes assim como para os mais importantes cargos da vida civil, como a advocacia. Porém, ao contrário de hoje, a riqueza de Santo Afonso não estava nos cargos elevados, mas no serviço aos outros, aos pobres e desamparados, pois foi por esse intento que ele se tornou advogado com apenas 16 anos. Se Santo Afonso se serviu de seu talento para o serviço e cuidado aos desassistidos de sua época, quanto mais nós deveríamos utilizar de nossos talentos para o cuidado e serviço aos que estão em estado de abandono seja da fé em Deus, seja das esperanças e sonhos de uma vida feliz, ou seja do abandono da própria sociedade que exclui ou recrimina. Cantor, compositor, desenhista, pintor e pianista, são esses alguns dos talentos deste belo “Pai espiritual”.
Tais talentos estavam voltados para utilidades práticas da vida: resgatar e elevar a dignidade das pessoas, salvaguardar o valor da vida e enriquecer a espiritualidade humana. Do canto se elevava a alma, da letra se apreendia as verdades da fé cristã, do desenho se guardava a imagem do redentor, da pintura se dava vida aos símbolos da nossa fé, da melodia se conduzia a alma para experimentar a Deus. Quem sabe, nesse mundo tecnológico, tão virtual e abstrato, não estamos esquecendo as belas artes que enriquecem a nossa vida, assim como talvez não estamos esquecendo os elementos fundamentais das virtudes cristãs como a fé, a caridade e a fortaleza, dentre outros. Santo Afonso não se esqueceu das belas artes e muitos menos dos mais abandonados, mas pelo contrário, tudo estava em sintonia para um único fim: A redenção. Pois o próprio ato da criação é um ato da redenção, assim como também é o projeto da salvação.
O Pai Afonso entendeu como ninguém a Deus, por isso quis “continuar o redentor” e se serviu “de seus talentos” para cuidar, salvar e redimir os mais abandonados do mundo. E nós, nesse belo dia, quem sabe não precisamos retomar os passos do nosso Pai? Para se encontrar com o Cristo e com o outro.  As belas canções deste “Pai artista” são alimentos para a alma, instrumento imediato de evangelização e alegria ao coração. A canção “Tu desces das estrelas” são ricas de uma fé espirituosa que contemplam os primeiros relatos literários-poéticos do nascimento do filho de Deus. Este mesmo Deus Santo Afonso encontrou nos Hospitais dos incuráveis e nas ruas dos pobres Lazarones, que estavam como o menino Jesus: em “quão grande pobreza” social e espiritual. Se Santo Afonso olhou para Jesus e o viu “nascer na gruta do Frio agreste” assim como o viu nos “cabreiros de Scala”, onde será que está o nosso menino Jesus hoje? Nas ruas?No tráfico? Nos orfanatos? Ou quem sabe até mais próximo de nós: em toda criança a qual é tomada a dignidade ou o direito da vida?!  A canção “Calaram os Céus a sua harmonia” é um deleite na contemplação da “tão divina [e] a virgem mais bela”: Maria. Nosso Pai amou-a profundamente e sempre deixou um razoável espaço para Maria no seu coração. Será que as outras Marias (joanas e antonias, dentre outras) de hoje estão tendo espaço, valor e direito na no coração da sociedade?

A canção “Não és para mim ó mundo” em si já diz o quanto que o nosso “Pai” não compartilhou com o a dinâmica injusta e desigual do mundo. Isso deste seu primeiro caso nos tribunais napolitanos, quando percebeu a falta de honestidade e as injustiças que aconteciam nos julgamentos, tal como hoje. É bem claro isso nas suas palavras, depois de perder uma tão grande causa: “Mundo, agora te conheço”! Foi percebendo isso que Afonso se tornou advogado de Deus e procurou seguir sua Lei a risca (“Amai-vos uns aos outros”) continuando o redentor. Por último, a canção “Agradar-te é meu desejo” é uma bela melodia que demonstrou o intimo de Santo Afonso: a grande vontade prática de agradar a Deus. Isso ele incessantemente buscou na sua vida, desde quando abdicou de uma vida de luxo e quando escreveu a teologia moral, para ajudar seus confrades a bem conduzir a humanidade ao senhor e a uma vida dignificante. Que nosso Pai nos ensine cada dia a bem servir a Deus e fazer sua vontade nos dias atuais.

domingo, 26 de julho de 2015

O sentido profundo da existência.

            Muitas pessoas não param para pensar naquilo que há de mais belo nesse mundo, aquilo que é dom de Deus, um presente gratuito, que está tão perto de nós, mais tão perto, que na maioria das vezes não percebemos e nem valorizamos corretamente: a nossa existência! Normalmente o motivo de não pensarmos sobre isso, como sobre um monte de coisas é porque corremos tanto e somos tão práticos que não pensamos sobre as coisas, mas isso só acontece até quando a sentimos em nós. Não pensávamos na paixão até quando nos apaixonamos, não pensávamos na fome até o dia em que a sentimos, não pensávamos em amigos até o dia em que tivemos. Isso nos leva a pensar: será que estamos sentido a nossa existência? Será que estamos nos percebendo? Será que estamos experimentando a nossa vida na sua beleza divina? Acredito que sentir e pensar sobre a nossa existência pode nos ajudar a bem viver antes que ela chegue ao seu fim neste mundo, pois Quem nos presenteou com a vida, um dia e até contra o nosso gosto, vais retomá-la para junto de Si. Por isso, mais do que nunca deveríamos nos preocupar para saber como estamos gastando a nossa vida. Pois existe algo essencial sem o qual perderíamos o sentido mais profundo e mais prazeroso na nossa existência: o amor. Pena que na maioria das vezes só percebemos isso quando passamos pelo limite da vida. Três exemplos podem nos ajudar a perceber isso: se fossemos condenados a perambular no deserto até a morte, não existiria mal maior do que morrer sozinho. (engraçado: foi assim que Cristo se sentiu na cruz por amor a nós), se fossemos abrigados (as) a dar a vida por algo que teríamos de mais precioso: esse algo seria aquilo, ou alguém, que mais amamos (surpreendente: não foi isso que o belo Jesus fez na cruz?!) Se perguntássemos a qualquer pessoa quem ela escolheria para estar junto eternamente: com certeza seria quem ela amaria, e não seria só uma (Não tem como fugir: Por isso que Cristo nos prometeu a eternidade). Não foi atoa que Jesus colocou como mandamento primordial: O AMOR. Sem esse Dom precioso a nossa existência perde o seu sentido, pois com o tempo, vamos percebendo que nossas forças vão acabando. Não reagimos com o mesmo vigor, aliás, a cada dia vai diminuindo. Os cabelos vão caindo. A fragilidade aumentando. A memória debilitando. Em fim: quase tudo vai passando. O que nós fizemos fica para os outros e para nós não terá mais valor, mas somente uma coisa ainda vai ficar conosco, e isso vai fazer toda a diferença de estarmos felizes e sermos felizes para sempre: o amor, pois esse é o preço da eternidade onde se encontra a sua fonte: Jesus.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Uma Fé que inquieta.

A tradição da Igreja nos confirma a necessidade de um momento de parada, na caminhada da vida, para acalmarmos nosso coração, rezarmos e entrarmos em sintonia ou intimidade com Deus. Por esse percurso é possível rever a caminhada e descobrir o que Deus quer de nós, ou como falou uma amiga minha: “o que pulsa mais forte no nosso íntimo”. Para que não nos detenhamos somente em parte desse processo espiritual, apresento um ponto posterior que completa este: falo de uma inquietação na qual nossa alma é afetada. Se por um lado temos paz de espírito ao contemplamos a presença de Deus, e isso é necessário, por outro, não tem como não agitar nosso espírito quando somos afetados pelo amor de Deus.  Isso porque a experiência com Deus segue essa dinâmica completa, pois se Moisés tivesse ficado no deserto contemplando Deus na sarça ardente, ele não teria conduzido seu povo para libertar-se do Rei do Egito (Êx 3, 1-8 ), se  Maria não tivesse corrido para casa de sua parenta Isabel,  ficando o tempo necessario para Izabel ter Joao Batista, quem sabe ela teria sido apedrejada antes de Jesus nascer (Lc 1,39), se os apóstolos tivessem ficado contemplando a subida de Jesus ressuscitado (Atos1, 9-12), nós não seriamos cristão. Mas tudo isso pra dizer que “A experiência com Deus também nos inquieta para uma ação transformadora”. São tão infinitos os motivos dessa inquietação, quanto sao infinitos os mistérios de Deus. Porém, o que mais nos deveria tocar e o que mais nos deveria inquietar deveria ser o amor de Deus. Pois este age nas nossas entranhas, dilacera os nossos rins, ou como diz o Papa Francisco na Alegria do evangelho: rasga o nosso coração. Umas das primeiras coisas que poderia nos inquietar é perceber que Cristo, Deus encarnado, morreu por amor a nós (Mt 26, 26-30) . Foi seu amor que nos concebeu a vida (Jo 6, 52-54) e é seu amor que nos mantem (Jo15, 9-15), tal como aconteceu com Lázaro (Jo 11, 21-48). Não tem como não ser afetado diante de alguém que dá a vida por nós e se isso não nos inquieta, deveríamos repensar se estamos de fato tendo uma experiência com Cristo, tal como teve Santo Agostinho, Santa Tereza, São João da Cruz, São Francisco, Ir. Dorothy e a serva de Deus: Ir. Dulce. Outra coisa que poderia nos inquietar é o chamado de Deus. Deus não só se deu por nós, assim como faz na Eucaristia todo dia, mas também nos chama, assim como chamou Samuel (1Sm3, 1-9), Maria (Lc 1:27), Santa Clara, Madre Gertrudes de São José e a Ir. Josefina. O seu chamado é para trabalhar na sua vinha (Mt 20, 1-16), ou seja, no Reino. Se um operário se preocupa ou se inquieta com o trabalho que tem que fazer, quando mais nós, para alguém de tamanha importância. Outro ponto que poderia arrasar o nosso coração por alguém que tanto nos ama como Jesus é que Este está no outro e de modo especial: em todo aquele que sofre (Mt 25, 35-46). Se não nos inquietar o nosso coração para quem nos ama mais do que qualquer um, como Jesus, que se encontra de modo misterioso no outro que sofre, então fica difícil saber se estamos aproveitando nossa experiência intima com Deus. Está mais do que provado que a nossa intimidade com Cristo precisa passar por esta experiência de inquietação e de movimento, que atualmente traduzimos como Missão. E isso a exemplo de muitos bons cristãos santos como o Pai Afonso que não queria desperdiçar um minuto sequer da sua vida que não fosse fazendo a vontade de Deus. Dai-nos Senhor a graça de poder se esforçar pelo teu Reino, pois existe uma distancia infinita entre o que o Teu amor fez por nós e o que nós fazemos por Ti todos os dias. 

domingo, 12 de julho de 2015

Uma palavra diz tudo.

O Amor! Há um bom tempo queria escrever algumas ideias sobre este tema, porém só agora tenho a disposição para fazê-lo. Não é muita novidade o que irei falar, porém acredito que vale a pena refletir e tomar uma consciência prática sobre tal tema. Com toda segurança posso dizer que o sentido maior e mais profundo da nossa existência se resume em uma palavra: AMOR. Para nós, cristãos, ela é muito mencionada, apesar de não ser suficientemente vivida. Se algum dia destruíssem a palavra de Deus, uma única palavra seria suficiente para salvar nossa fé e nossa vida: a palavra “AMOR” (Jo 13,35.), pois toda a história da bíblia e toda a trajetória do povo de Deus é uma manifestação de Amor. Por que foi que Deus criou o homem?( Gn 1, 26-27)Por que Abraão intercedeu a Deus pelo povo de Sodoma e Gomorra? (Gn  18, 17-31) Por que Cristo se encarna como humano para estar junto de nós?(Lc 1, 26-39). Não tem palavra mais próxima de resposta do que essa: “AMOR”.
O sentido dessa palavra na história humana é variado conforme cada época, porém, limito-me a refletir sobre essa palavra nos três significados que compõe a tradição Grega. Amor como “eros”, amor como “philia” e amor como “ágape”. Acredito que esses três conceitos fazem parte de nossa experiência humana e também divina. O amor “eros” é amor conforme à natureza. A tradição dos Padres da Igreja colocaram esse amor como amor atrativo que nos condicionam para reprodução da nossa espécie. Por tanto faz parte de um amor sexual. É mais instintivo. Muita gente trata isso como problemático, ou tenta negar isso, porém é somente em função desse amor que se possibilita a perpetuação da existência humana. Os limites da vida consagrada religiosa propõe uma orientação específica sobre isso.  Porém, independente de cada opção de vida, essa espécie de amor faz parte de nossa existência, nos toca e nos afeta como qualquer humano.
Isso não é problema, mas um dom natural concedido por quem nos fez: Deus. E deve ser tratado com toda sua dignidade e respeito. Pena que muita gente ainda não consegue  ver como dom divino a sua humanidade. O amor “eros”, muitas vezes tão tenso, inquieto, intenso, e dinâmico  é como um vulcão que tem sua dinâmica própria, independente de nosso querer, pois faz parte de nossa natureza. Essa espécie de amor tem seu valor significativo, porém não é o grau mais profundo e elevado da existência humana.
O segundo amor “Philia” ou “Filia” é uma amor fraterno. É também de nossa natureza, pois somos pessoas sensíveis, porém não está condicionado independentemente de nossa vontade. É uma amor de amigo. A sublimidade de sua beleza está na virtuosidade com que é construído e se mantém. Essa espécie de amor é fundamental para boa convivência. Nós religiosos precisamos muito desse amor. Pois não tem como se sustentar nos impasses da vida sem o amor fraterno. Infelizmente atualmente não é tão fácil construir esse amor, pois são muitos os receios, medos e frustrações. Quem mais se entrega a esse amor pode muitas vezes sair bem machucado, porém vale a pena quando se encontra uma verdadeira amizade. Pois elas perduram por toda eternidade. Esse amor de amigo está em grau superior ao amor “eros”, porém a existência de um não implica a negação do outro.
O amor “Ágape” é o sonhado por todos e quem sabe o mais difícil de se ter. É superior aos demais. É um amor puríssimo e belo. Para não se ter uma compreensão limita desse tipo de amor é bom perceber que este amor não está, separado dos demais, em um mundo nunca ante visto. Ele é puro, em sua perfeição e bondade, porém, isso não implica que ele não participe dos outros dois tipos de amores. Esse amor é puro, pois é incondicional. Ou seja, não está determinado pelo outro, pelos sentidos, pelos instintos, pelo exterior, mas pela sua própria essência: ser “AMOR”. Santa Terezinha buscou ele. E viveu feliz como ninguém. Esse amor Ágape não é instinto e nem fraternidade, mas é a fonte do instinto e desejo que gera a vida assim como também é a fonte da boa convivência e fraternidade humana.  O “ágape”é o amor da plenitude humana, pois uni o diferente, harmoniza os opostos, gera vida onde há morte e dá eternidade ao limite do tempo. Nosso maior desafio não é buscar um dos três amores, mas na dinâmica da vida, nas limitações da nossa existência, perpassar a todos  os tipos de amor e alcançar o ponto mais profundo de nossa existência que se depara com o sublime. O maior exemplo dessa experiência de amor é o belo Cristo: Ele passou pelos três estágios do amor. Vou logo dizer: Ele próprio era o AMOR ENCARNADO E INCONDICIONAL: SÓ UM AMOR PURO LUTA PELA UNIDADE DA FAMÍLIA (Mc 10, 9), PELA FRATERNIDADE E AMIZADE HUMANA (Jo 15, 14-16), SÓ UM AMOR PURO NÃO DEIXA DE AMAR QUANDO ESTÁ SENDO ASSASSINADO (Jo13, 1). SÓ UM AMOR PURO SE ENTREGA PARA DAR AVIDA ETERNA A TODOS QUE O ACOLHEM (Jo 3, 16), POIS AINDA NÃO ENTREGOU A VIDA A TODOS PORQUE NEM TODOS O QUEREM (Jo 1, 9-12).