terça-feira, 20 de outubro de 2015

A outra face do Amor personificado: a justiça, que é profética.


Ultimamente no período litúrgico está muito presente, apesar de ser pouco observado e meditado por muitos de nossos comentadores da palavra de Deus, a figura de profetas. Jonas, Malaquias, Joel, são alguns profetas que estiveram presentes na liturgia desse mês missionário. Porém, queria falar do maior profeta que já tivemos na história humana e de fé do povo de Deus: Jesus nazereno, o Cristo. Se a proposta irresistível de Cristo é a redenção da humanidade pelo seu corpo e sangue imolado, isso não seria possível sem outro meio fundamental: a profecia.

O redentor e o profeta são duas características de uma só pessoa e não tem como entender o projeto salvífico de Cristo sem esses dois sinais divinos. Isso é tão certo na tradição da igreja, pois nela observamos que Deus tanto é infinitamente e abundantemente misericordioso assim como também é justíssimo. Aqui nos deparamos na verdade com a outra face do Amor personificado: a justiça, que é profética.

Na comunidade de Lucas (11, 42-46) vemos os sinais de nosso belo amor e profeta nazereno se referindo aos fariseus e membros da alta classe religiosa nos seguintes termos: “Aí de vós, fariseus, porque pagais o dízimo da hortelã, da arruda e de todas as outras ervas, mas deixais de lado a justiça e o amor de Deus”. Se no começo da missão Jesus anuncia e é testemunha viva do reino de amor do Pai, isso não está separado da grande hora de Cristo: a hora da profecia, da denuncia, da justiça.

O amor de Deus pelo homem fez o filho de Deus descer para nosso meio. Agora é o mesmo amor de Deus pelos seus pequeninos, excluídos e mais abandonados que faz Cristo denunciar as injustiças praticadas pelos mestres da Lei e fariseus dentre outros. Pois estes deveriam acolher os abandonados, os excluídos e marginalizados, ou ditos pecadores, da época, tal como o próprio nazereno fez e até disse que fizessem (“E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te?E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes” Mateus 25,39-40).

Jesus não estava contra a lei judaica, mas afirmava que cumprir a lei e esquecer o próximo, ou não praticar a misericórdia para com os mais abandonados, era o mesmo que se desviar da essência ou função principal da lei. Deus fez a lei para que o coração do homem se tornasse mais humano e divino, para que o povo de Deus não esquecessem os caminhos do Senhor (a verdade e o amor), porém, a preocupação com a lei simplesmente pela lei, o endurecimento do coração, ou seja, a insensibilidade para com o próximo, o estrangeiro, a viúva, o órfão e muitos outros, foram coisas que afastavam do projeto de Deus aqueles que deveriam estar mais próximos de Deus: os sacerdotes, os doutores da lei e os fariseus.

Jesus critica esses por serem vaidosos e egoístas, ou seja, por quererem “o lugar de honra nas sinagogas, de serdes cumprimentados nas praças públicas”, e de contra ponto colocarem “sobre os homens [leigos, pobres e excluídos] cargas insuportáveis”. Até então demonstramos o suficiente da ação profética de Cristo que se realizou em vista do seu amor. As consequências disso tudo é a morte do Cristo, pois quando ele começou a tocar na ferida das paixões humanas, da vaidade, do egoísmo e outros pecados cometidos pelo próprio líderes da época, o Cristo foi negado e, condenado a morte de cruz, se entregou pelo seu infinito amor e pela sua divina justiça por nós. Essas duas coisas o fizeram da à vida pela salvação daqueles que o aceita e o acolhe.

Que este pequeno texto possa nos ajudar a refletir se o anuncio da redenção, do amor de Cristo o qual vivemos e anunciamos está de fato experienciado e testemunhado junto com anuncio da justiça reparadora cristã que não abandona ninguém e luta contra as injustiças do pecado humano.