sexta-feira, 29 de abril de 2016

Pedro Donders e a experiência redentora: uma inspiração para às necessidades dos novos tempos.


Se o rico e extenso projeto redentorista, de origem, inspiração e espiritualidade cristológico-afonsiana, tem expressividade e continua no horizonte da América Latina[1], ou especificadamente no Brasil, isso se dá pelas pegadas firmes, reais, compromissadas e profundas que tais missionários trilharam ao longo da História até nossos tempos.

Tal percurso histórico testemunhal de “fé e vida” não pode ser esquecido e muito menos desprezado por nós que continuamos esse projeto, mas pelo contrário, deve ser visto e valorizado como fonte inspiradora para os novos trabalhos e desafios de evangelização (redentora), seja internamente na dinâmica própria da congregação, ou externamente na missão, comunhão e diálogo com a múltipla, complexa e diversificada sociedade que temos.

Reestruturação interna (e porque não externa) é a palavra que deve fazer eco na nossa vida e missão. É o que de certo modo já havia percebido e nos sinaliza São Clemente, na sua pedagogia missionária: devemos evangelizar de um modo sempre novo[2]! Reestruturação não é abandonar o antigo para ficar com o que a sociedade nos impõe, ou acredita que é certo e novo (e nisso devemos ter muito cuidado).

Podemos observar que reestruturação implica mais olhar o antigo (aquilo que nossos predecessores experimentaram e fizeram como resposta de fé e vida na História) e, com base nisto, observar os elementos que continuam sendo relevantes para os nossos tempos como resposta aos desafios da realidade. Trata-se também de uma inspiração da nossa experiência histórica, humana, espiritual, missionária, apostólica e serviçal redentorista que precisa ser atualizada, conforme os novos tempos, seus sinais de Reino e suas necessidades, para respondermos generosamente ao chamado de Deus.

É justamente essa a proposta deste artigo: olhar na experiência missionária do beato Pedro (Peerke) Donders (1809-1887) alguns elementos que marcam, sinalizam e podem até nos inspirar para atualizarmos ou revitalizarmos o projeto da redenção.

De vida comum, simples, humilde e lutadora, Pedro Donders nasce numa Aldeia de Heikan, em Tilburg, na Holanda. Seu contexto sociocultural, no século XIX, é marcado pela força contagiante da revolução industrial e social. Desde os 05 anos esse missionário já desejava ser padre e aos 12 trabalhava no microcomércio de tecelagem para sem manter e sustentar sua família[3]. Aos 22 anos entra para o Seminário como servente.

Umas das coisas marcantes da sua experiência missionária, antes de ser redentorista é a liberdade, disposição e generosidade para enfrentar uma missão na região mais difícil, complicada e de risco da América do Sul: no Suriname, em Paramaribo, na Batávia e em Coroní[4]. Tal região era marcada pela presença de comunidades de leprosos, de povos indígenas, de negros e escravos.  Era uma área periférica, de risco, abandonada social e espiritualmente.  Nesse ambiente colonial-campesino, florestal e pobre- desassistido, eram poucas as pessoas que queria ajudar na elevação da dignidade humana e redenção das almas.

A abertura pastoral, humana e missionária para essas regiões periféricas, dentre outras, continuam sendo uma marca distintiva e fundante redentorista. Cabe a nós observar que áreas da nossa região missionária é periférica, em situações de risco, e abandonada pelas forças governamentais e institucionais e até pela Igreja?. Que áreas são de extrema necessidade de evangelização da pessoa integral?[5] Essa inspiração continua sendo expressividade da nossa identidade religiosa caritativa.

A vida de oração[6] é outro elemento característico da experiência de Donders. “‘A oração era seu alimento, a respiração de sua alma. Orava sem cessar’. Não considerava a oração como um dever, mas como uma necessidade, como um momento de respiração profunda”[7]. De tal constância de fé Donders insistia para que seu povo abandonado permanecesse na oração. Porém essa persistência não era acomodada ou centralizada nele, e muito menos em um ambiente específico, mas ele muitas vezes saía para encontrar os índios e evangeliza-los: “Cada ano passava os meses da seca buscando os indígenas na selva para os evangelizar. (...) Mas nada podia detê-lo. Pedro Donders era tenaz e sempre terminava descobrindo-os”[8]. Essa experiência missionária de saída é uma constante nossa que não pode ser perdida (estado permanente de missão!).

A vida de oração não estava separada da atividade pastoral, missionária e de existência humana, mas fazia parte do seu itinerário espiritual: “Depois de dedicar-se durante as primeiras horas da madrugada à santa missa e à oração, saía para visitar sua gente. Cuidava especialmente dos recém-chegados e dos desamparados. Não se contentava com palavras piedosas e reconfortantes. Fazia até o impossível: cortava lenha, trazia água, preparava a comida, amparava os corpos enfermos..”[9]. Todas essas coisas demonstram uma integração total com a proposta redentora. Cabe a nós observarmos se nas nossas atividades apostólicas estamos trabalhando de forma integrada a fé e a vida, a celebração do mistério divino e a busca pelo valor e dignidade das pessoas humana, enquanto filhos amados de Deus.

O aspecto profético da experiência missionária de Donders é algo de significativo também nos dias atuais. Ele compreendeu bem a sua realidade e as formas de explorações dos líderes e governantes da época com o trabalho escravo. “Ai! Se a gente cuidasse dos escravos como os europeus cuidam dos animais. O que vi e ouvi vai além de toda a imaginação...Desgraçados e mil vezes desgraçados esses europeus, donos das plantações, patrões de escravos, administradores, diretores e oficiais que mantêm submisso esse povo escravo! Desgraçados os que acumulam fortuna com o suor e o sague desses desafortunados, a quem só Deus defende!”[10]. “Tudo aqui parece cooperar para a corrupção total. E não há ninguém que lute contra esta miséria. Enfrentamos aqui um rio imenso de impiedade”[11]

Essa orientação de exploração e opressão, de pecado e descaso permanece hoje de forma mais velada e sofisticada. Em muitos aspectos tais formas de opressão se institucionalizaram para disfarçar o seu caráter contrário à vida humana, à liberdade e identidade religiosa. Cabe a nós descobrir e denunciar tais caminhos que impedem a dignidade humana e a redenção na vida do povo de Deus.

A resposta profética dondersiana foi o consolo imediato e primário para o povo de Deus abandonado e carente de conversão do Surinami. Ela continua tendo tamanha importância e expressão redentora na América Latina e na realidade brasileira. “Fortes na fé, alegres na esperança, inflamados no zelo, humildes e sempre dados à oração”, segundo reza nossa constituição (art.06, §20), é uma marca distintiva de Pedro Donders na sua atuação missionária, principalmente depois que entrou na Congregação do Santíssimo Redentor. Com esta, Pedro Donders trousse grandes benefícios, esperanças humanas e espirituais para o povo da região[12]. Essa identidade pela fé no Redentor é um sinal de nossa caminhada, compromisso e total entrega ao projeto de Deus, que precisa ser atualizada e vivida nos tempos atuais de incompreensões, crises políticas, sociais e intolerância religiosa.   

A vida comunitária é outra marca do nosso humilde redentorista. “Donders não é um homem de aventura solitária, nem o grande pioneiro que foge do caminho trilhado. (...) Dizia-se que ele era uma pessoa suave, mas deve-se ver nele algo mais do que um caráter agradável”[13]. Tal observação está em consonância com o aspecto fraternal redentorista que precisa perdurar continuamente como manifestação da experiência e intimidade com Deus.

Que Deus nos conceda a cada dia a graça de continuar o seu projeto, sendo sinal de fé, luz, esperança, justiça e misericórdia para o Reino que germina no meio de nós. E que o exemplo deste beato, também referencial na América Latina e no Brasil possa nos inspirar para sermos testemunhas missionárias do Espírito Redentor que permeia nossa História. Amém!  




[1] Tema tratado por Fabriciano Ferrero no 4º capítulo, a saber, Espírito missionário de Pedro Donders, no 11º volume da coleção Espiritualidade Redentorista. Cf. URB. Secretariado Geral para a Espiritualidade. Espiritualidade Redentorista: vida espiritual do beato Pedro Donders. [trad. Pe. Clóvis de Jesus Bovo, C.Ss.R] Goiânia: Scala Editora, 2012, p.118-230.
[2] HEINZMANN, Josef. Vida de São Clemente Hofbauer: anunciando novamente o Evangelho. [Trad. Irene Ortlieb Guerreiro Cacais, Luís Guerreiro Cacais]._,_. Aparecida, Sp. Editora Santuário,1988, p. 164.
[3] Cf. URB. Secretariado Geral para a Espiritualidade. Espiritualidade Redentorista: vida espiritual do beato Pedro Donders, 2012, p.17-18.
[4] Ibidem, p. 122-127.
[5] Ibidem, p. 31.
[6] Ibidem, p. 172.
[7] Ibidem.
[8] Ibidem, p. 34.
[9] Ibidem, p.30.
[10] Ibidem, p. 28
[11] Ibidem, p. 26.
[12] Ibidem, p. 89-94.
[13] Ibidem, p. 183.

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Impeachment, gafes, revoltas, realidade e circo na política!


Aquilo que vimos pelas telinhas de teve neste domingo (17/04/2016), na Câmera dos Deputados, a saber, a votação do Impeachment da presidente Dilma, é reflexo real da política brasileira: a) uma briga de cão e gato (Tom e Jerry), b) uma disputa corrupta e desumana pelo poder, c) um picadeiro de circo. Esse cenário é vergonhoso para o povo brasileiro, que vela a sério a vida diária e que na luta cotidiana, trabalha, cuida dos filhos, da família, da casa e de muitas coisas que lhe são exigidas para manter-se, sustentar-se e expressar-se civilazatoriamente.
O início da votação foi conturbado e marcado por atritos e rivalidades excepcionalmente expressadas nas amotinações, faixas e palavreados na plenária. Era sucintamente visível tal clima desordeiro e conflitante. Evidentemente já poderíamos esperar de tais doutores deputados, e apoios partidários, uma boa retórica para sustentar sua postura a favor ou contra o Impeachment da presidente, porém o que vimos além disso foi expressões de revolta, raiva e inimizades partidárias, como as expressões fortes e conjuntas: “Fora Pt!” e “Dilma vai embora que o Brasil não quer você. E leva o Lula junto e os vagabundos do Pt!”, dentre outras. É mais que óbvio que os dois partidos mais fortes PMDB e PT disputam o poder na bancada, sendo que a luta desta vez para assumir o poder está ligada a Michel Temer e Eduardo Cunha, do PMDB. Essas brigas e rivalidades já se manifestam desde a candidatura de Dilma para presidência: dai podemos constatar a briga de cão e gato para assentar no trono, sendo que os menos favorecidos na política atualmente brigam a todo custo para tomar posse do governo.
Se na política tivéssemos corretos e consideráveis números de pessoas que dessem bom exemplo político e assistencializassem à população conforme suas necessidades primárias (alimentação, moradia, saúde e educação) de modo igualitário e sem privilégios ou preconceitos, nós teríamos boas razões para crer mais no sistema político, porém, o que vemos na plenária é, como disse a deputada Marciana do PC do B: “tanta hipocrisia junta por metro quadrado”! Membros corruptos, como Eduardo Cunha e Temer, de partidos diversos estão na plenária e não presos. Muitos do Mensalão e da Operação Lava jato não foram condenados, ou respondem tal processo livremente, enquanto que muitas pessoas desprovidas de bens econômicos estão imediatamente ou até injustamente presas. Muitos dos que falaram da democracia, da justiça, do direito e da liberdade, do povo e do país são antidemocratas, injustos e exploradores.  
A crise afetou diretamente a economia, porém como sabemos nossa economia é hierárquica, ou seja, começa de quem ganha mais e vai até quem ganha menos. Deste modo economicamente começamos a crise pelas grandes empresas e instituições de nomes que estão “bem sustentavelmente no mercado econômico”. A baixo dessas empresas existem as empresas terceirizadas e por ultimo estão as microempresas que se relacionam economicamente e produtivamente com outras empresas de negócios.Ou seja é a real rede econômica de interesses que muitas vezes não se importam com a maioria e assalariada classe trabalhadora, principalmente quando esta não oferece para os donos empresariais lucro. Se alguém observou na nossa bancada, a maioria dos deputados e apoios, ou uma parcela razoável, estão ligados ao agronegócio ou às empresas grandes ou pequenas. Daí podemos justificar a briga tão grande por “mudanças econômicas”, pois eles são os primeiros atingidos na crise. Que pena, mas a maioria da população que recebeu aumento de importo, e que ainda não recebeu melhorias no sistema público, não foi à causa da exigência das mudanças do governo, mas a causa de tal reivindicação foi: o mau relacionamento comercial das empresas particulares e também públicas nas relações econômicas com a atual presidente Dilma administradora dos bens econômicos do governo. Se a preocupação fosse os mais abandonados, a classe trabalhadora e os excluídos, o discurso seria diferente e coerente com a luta. São mínimos os deputados que reclamaram do aumento dos impostos, do aumento do valor da alimentação, dos produtos do mercado. Poucos mencionaram os pobres e abandonados que não possuem casa, ou dignidade, dos presídios que não reabilitam presos para a sociedade, das doenças que estamos passando, das juventudes mortas pelo tráfico. Então podemos observar que: a briga por tudo isso é pelo poder e pelos interesses econômicos dos grandes e poderosos, a não pela assistência ao povo.
O ultimo elemento que podemos observar neste Impeachment da presidente é a palhaçada de muitos posicionamentos políticos e de muitos partidos. Não foram poucas as expressões: “Em nome do meu filho”, “Pela minha mãezinha”, “pelos meus netos e nora”, “Pela minha esposa Paula, voto sim”, .... e muito mais. Podemos observar a falta de seriedade deste ato e o oportunismo para se fazer memórias afetuosas em situações inoportunas. Será que estamos em crise? E a crise de quem será?! Em outras situações poderíamos ter observado que muitas falas boas e relevantes que apareceram não foram respeitadas e nem ouvidas. Mais parecia que o alvo da argumentação era quem estava na teve e não eles entre si que iriam teoricamente nos representar. Hoje esses partidos se rebelam uns contra os outros. Amanha e depois da política eles trocam de partidos como bem lhes convém. Porém o pior é que a maioria do povo precisa de mudanças e mais melhorias, só que isso não acontece, apesar de já termos alguns avanços que devem ser observados e valorizados.
Não podemos desconsiderar muitas falas verdadeiras e até reais que aconteceram quando alguns deputados se pronunciaram  no processo do Impeachment como as ditas pelo deputado Leonardo Picciani do PMDB: “Amanhã ....em que cada partido, cada movimento, cada cidadão precisa ter a responsabilidade com o Pais”, e do deputado Alessandro Molon do Partido Rede:“O desejo de um julgamento justo e sério no tribunal eleitoral, onde seja apurada todas as denuncias de uso de recursos ilícitos nas eleições passadas. Outro ponto que nos unifica é que esse processo, pela gravidade, não poderia jamais ser presidido por um réu no supremo tribunal federal como o Deputado Eduardo Cunha. Réu por corrupção, réu por lavagem de dinheiro, e isso mostra que o que está acontecendo nesta tarde aqui é que nada tem haver com o combate a corrupção”. Por fim, podemos observar que precisamos cada dia mais tomar consciência crítica, coerente e humanitária de nossa realidade política e das decisões que se tomam na plenária sem o nosso conhecimento e consentimento, mas que são prejudiciais para o povo ou pelo menos a maioria da população.


terça-feira, 12 de abril de 2016

SOS: Brasil em convulsão!

O cenário político, econômico e industrial brasileiro está marcado por lutas, atritos, brigas políticas, ou melhor dizendo, partidárias. Todas essas atividades partidárias e manifestações que já vem acontecendo há um bom tempo (e me refiro, aquelas violentas, desordeiras e agressivas) são atividades de “Homens de cabeça dura, insensíveis e incircuncisos de coração e ouvido!” (At 7, 51). Ultimamente só vemos (diante daqueles que detêm o poder no parlamento e nos meios de comunicação em massa) pessoas que tremem de raiva em seus corações, mais muita e muita raiva, como os que assassinaram Estevão (At 7,54), apostolo de Cristo. Essas pessoas lutam a todo custo e se mobilizam para ganhar ou se manter no poder e se beneficiar com o mesmo.

Nessa dinâmica de atrito, “o povo” está sendo motivado e iludido a se revoltar contra um ou outro partido. Isso é possível observar nos últimos meses e principalmente agora no instigado impeachment da atual presidente Dilma Roussef.  As justificativas para tais ações revoltosas e agressivas são muitas: a) a crise econômica na Europa que mais cedo ou mais tarde teria efeito colateral no Brasil; b) as descobertas de crimes graves, com os bens do país, pela a Lava-jato; c) o aumento atual dos impostos nos bens de consumo (alimentos, roupas, etc) humano; d) a suja corrupção, mais visível, em toda a estrutura do sistema político brasileiro e e) os problemas gerais não menos grave que já fazem parte, e há muito tempo, da trajetória do Brasil (problemas na educação, na moradia, na saúde, no trabalho, na alimentação, nas reservas de agua para nosso consumo....).

Diante de tais dificuldades precisamos fazer um discernimento correto, cuidadoso e sério sobre tal situação, sem cair no erro de que: a) este partido é bom e o outro ruim; este não nos ajudou e aquele vai nos ajudar; este agiu de má fé e aquele de boa fé. Na verdade é muito difícil ter tal discernimento. Pois há tempos que não se tem tanta transparência, como atualmente, na forma de governo da política do Brasil. E nunca tivemos tantas dúvidas em relação ao governo e partido mais apropriado. De fato há um descrédito na política e no sistema governamental, porém não podemos cair em tal visão negativa, pois sempre é preciso alguém para governar, mesmo que não seja o ideal, e acredito que nunca houve realmente.

Uma visão mais coerente da realidade seria perceber que na nossa história sempre tivemos progressos em uns pontos e regressos em outros. Porém o discernimento que podemos ter atualmente nessa situação de rivalidade e para as próximas eleições é conhecer com mais seriedade e precisão quem possui o perfil mais próximo da realidade do povo (de modo especial os mais abandonados) do Brasil, quem possui um histórico envolvido nas questões dos mais necessitados, quem é mais sensível e humano para ajudar a quem mais necessitam?. Pois em situações difíceis os menos favorecidos e os mais abandonados são os que sofrem mais e deveriam possuir nossa maior atenção.

Nosso sistema político e social abrasileiro está como um corpo em convulsão, onde um partido ou setor  ou seus membros, ou até as famílias, pensam que não precisam uns dos outros, ou não se ajudam para o bem do povo. Esse é o problema. A relação dos partidos ou setores empresariais e trabalhistas, ou de muitos membros da sociedade, acontecem numa pretensão de dizer “eu não preciso de você!” e “você não faz parte do meu grupo!”. São os membros do corpo Brasil, principalmente na política, que não se vêm e não se ajudam como membros de um mesmo corpo como bem disse Paulo: “Se todos fossem um só membro, onde estaria o corpo? Há, pois, muitos membros, mas um só corpo. O olho não pode dizer à mão: Eu não preciso de ti; nem a cabeça aos pés: Não necessito de vós”(1Cor 12, 19-21). Não é isso que vemos entre nossa presidente e seu vice? Enquanto houver divisão nesse sistema não vamos progredir. E o pior: os menos favorecidos sofrerão mais: o povo, e principalmente, a grande população trabalhadora, que sustenta esse País.    

Ir a favor ou contra ao impeachment da atual presidente não vai alterar em nada a nossa real situação. E quem for sucedê-la, se assim acontecer, não vai resolver nossos problemas, que são profundos, históricos, e que podem levar décadas para serem resolvidos e se forem. O que é preciso levar em consideração afinal é quem fica, ou assumirá, o poder e quais membros de todo o sistema político também fará parte deste sistema, pois esses sim (não depende só de um presidente, mas de todo o corpo) podem auxiliar a situação do Pais ou prejudicá-la.


            Um representante não vai resolver nossos problemas se nós não tomarmos consciência social, política e humana sobre nossas ações e escolhas. Se não tivermos autonomia e liberdade para buscar o bem comum, não caminhamos. Pode acaso um membro andar ou viver sem o outro?. Enquanto não aprendermos a caminhar, ter mais consciência humana e de corpo Brasil, enquanto não cuidarmos principalmente dos membros menos favorecidos, os pobres, desprezados, excluídos e assalariados, dentre outros, então não conseguiremos nos reerguer como nação, como Reino, como disse Jesus: “E, se um reino se dividir contra si mesmo, tal reino não pode subsistir; E, se uma casa se dividir contra si mesma, tal casa não pode subsistir” (Mc 3, 24-26).  

sábado, 9 de abril de 2016

Vida de Oração e Oração da vida: comunhão com o Sagrado.


Falar de Oração (com O maiúsculo) diferente de oração (com o minúsculo) é falar de um elemento importantíssimo, necessário e fundamental, que precisamos ter (se já não temos) e cultivá-lo cotidianamente, para bem viver e se orientar, na vida. Nas primeiras comunidades apostólicas podemos perceber o destaque dado à Oração quando um dos doze discípulos, ou apóstolos, afirmaram: “Não é conveniente que abandonemos a Palavra de Deus para servir às mesas” (At 6, 2). Neste caso não se trata de deixar de fazer o que precisamos (comer, trabalhar, se divertir, viver em comunidade...) para viver exclusivamente de oração, mas de não abandonarmos aquilo que sustenta nossa vida, existência e caminhada com Deus: a Oração. Dai podemos ver que é necessário “permanecermos assíduos à oração e ao mistério da palavra” (At 6, 4), ou seja, à Oração.  

Se já reconhecemos a sua importância, no dia a dia, não podemos reduzir ou empobrecer toda a riqueza que a Oração possui. Muitos acreditam que a Oração pode ser compreendida simplesmente como: práticas devocionais (como o santo terço), ou formulas já prontas, para serem lidas. Ela passa por essas práticas devocionais (de oração), porém não se reduzem a isso simplesmente e não são palavras jogadas ao vento, blablablar do que já se passou na história.

Três elementos essenciais são significativos para Oração: Fé, tempo e intimidade com Deus. Acreditar que Deus existe, que não estamos sós, que há Deus por nós (Rm 8, 31), que Ele nunca nos abandona (Is 49, 15), mas permanece conosco pelo seu Filho (Mt 28, 9), pela força do Espírito Santo (At 2, 4), e continuamente bate a porta da nossa vida para se comunicar conosco (Ap 3, 20). Ter fé em Deus, essa é a primeira condição para termos uma vida de Oração. 

Outro elemento importante é o tempo. Sem tempo para estarmos com Deus, para abrir nossa vida e coração, nossa existência para Ele, é impossível fazer Oração. Podemos observar diversas dificuldades e obstáculos que nós mesmos, além dos outros, criamos para não ter tempo pra Deus: os afazeres da casa, o trabalho do dia a dia, o corre-corre, outras coisas que são mais importantes que rezar, o cansaço físico ou mental. São infinitas as desculpas. Porém se não deixamos o tempo para Deus, como podemos falar com Ele, como podemos nos abrir para sua presença e como Deus pode agir em nós, como fazemos Oração?! Sem tempo para Deus não temos como dizer: “Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça, da mesma forma que em vós nós esperamos!”(Sl 32).

O ultimo elemento importantíssimo é a intimidade com Deus. Muitas pessoas recorrem às novenas, terços, Ofícios Divinos e das Comunidades, dentre outras e infinitas orações e praticas devocionais, para fazer Oração. Isso é muito importante e pode nos ajudar muito, porém, tais práticas e orações não servirão muito se não criamos ou temos intimidade com Deus. Se nessas práticas devocionais e diversas orações orientadas pela Igreja não dialogamos com Deus, não abrimos o nosso coração, não fazemos certo tempo de silêncio, não colocamos a nossa vida aberta e a amostra diante de Deus, então não estamos fazendo Oração de fato, não estamos nos comunicando com Deus. Agir sem intimidade com Deus é como “Bem profetizou Isaías sobre vós, denunciando: ‘Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. Em vão me adoram; pois ensinam doutrinas que não passam de regras criadas por homens’” (Mt 15,7-9).

Oração é intimidade, diálogo, relação, conversa com Deus por diversos meios: como a Palavra de Deus, as devoções e orações fundamentais da Igreja.  Há quem acredite que não há Oração sem algum escrito ou material oracional em mão. Porém reduzir a Oração a isso é limitar a nossa união e intimidade com Deus. De modo simples: se prostrar diante de Jesus Eucarístico, na Igreja (Sl26) ou até no nosso quarto de descanso (Mt 6, 6), ou em qualquer lugar revezado, como um Jardim (Lc 22, 41), e neste local conversarmos com Deus, então, já estamos fazendo uma Oração. Para quem não sabe o que dizer, como os apóstolos, o próprio Jesus nos ensina o Pai nosso (Mt 6, 9-13). Essa Oração é fruto da intimidade de Jesus com o Pai. Porém, isso não quer dizer que devemos dizer somente essas palavras, mas podemos ir mais fundo e falar com Deus pelo coração. A partir do que nós estamos sentindo e vivendo: nossas dificuldades, problemas, prazeres, desafios e projetos. Falemos com Deus como quem fala com um verdadeiro Amigo (Jo15, 15), com um irmão, com um Pai, ou melhor dizendo: falemos com Deus como quem falar com o seu mais grande amor (Jo 4, 8).

A verdadeira e profunda Oração é um exercício constante. Se não persistimos e cultivamos o encontro com Deus, dificilmente perceberemos sua presença e dificilmente contemplaremos a sua glória na nossa vida. Deus náo é o problema na Oração, porque “O Senhor pousa o olhar sobre os que o temem e que confiam, esperando em seu amor, para da morte libertar as suas vidas, e alimentá-los quando é tempo de penúria” (Sl32), mas nós podemos ser esse problema, quando não aproveitamos a nossa vida para nos encontrar com Deus na Oração.

Há quem acredite que Oração é exclusivamente um momento do dia. Aquele tempo pequeno e bem rápido para estar com Deus, com seu Filho, pelo Espíritos Santo, mediações celestiais e Santos. Quem pensa assim está errado e precisa rever sua experiência com Deus, pois a nossa Oração não deve estar separada da nossa vida, mas estar enraizada na nossa própria história, existência, cultura, sonhos e desafios. Jesus rezava ao Pai a sua vida e missão aqui neste mundo e não em outro (Mt 26,  39-45), no momento da transfiguração Jesus falava sobre a morte que iria lhe suceder(Lc 9, 28-31).

Apesar de termos nossos momentos pessoais de Oração, e onde bem quisermos ou desejar, não podemos nos restringir a tal momento pessoal, pois nossa Oração deve também estar em conexão com a comunidade, com a Igreja. Jesus tinha seus momentos pessoais no monte para rezar (Mt 14, 23), se comunicava ou rezava ao Pai no meio dos seus (Jo 11, 41-43) e até os orientou para rezar com Ele (Mt 26, 37-41), como seu discípulos fizeram no pentecostes (At 2, 1-7).


Portanto, Oração e Vida devem estar unidas a tal ponto de termos na nossa vida cotidiana momentos variados e infinitos de comunhão com Deus, Oração, e por meio desta Oração ou Intimidade com Deus, fazermos da nossa vida, da nossa História, uma comunhão com o Reino de Deus, uma resposta com a sua vontade. Precisamos rezar e precisamos por meio da nossa oração o maior motivo da nossa existência, nos nossos sonhos e lutas. Oferecendo a Deus tudo o que temos e somos, e ofertando a vida em comunhão com o Reino de Deus.  Deste modo podemos descobrir e provar a profunda experiência da vida de Oração e da Oração que é Vida.      

sexta-feira, 8 de abril de 2016

A Eucaristia: o mais belo e perigoso seguimento do Cristo.


          Nos tempos atuais participar da Eucaristia nunca foi tão bom e tão difícil para nós Cristãos Católicos. Isso porque quando nos abrimos para compreender ou se esclarecer sobre tal “mistério de fé” podemos, assim, nos surpreender, ou até ficar de boca aberta, ao percebermos o que se revela nesse mistério profundo e inacabado que Celebramos na Missa, ou melhor dizendo na Ação de Graças.  

O grande prazer que podemos ter está em ver que Jesus todos os dias “está conosco” (O Senhor esteja convosco-Ele está no meio de nós!) na Celebração Litúrgica, e que desde o início da Missa, e não no momento de consagração, entramos numa relação de diálogo, intimidade e comunhão com Cristo.

Celebramos tal mistério porque “temos dentro de nós fome”. Podemos ver que há dois tipos de fome: uma ruim e outra boa, uma que pode nos destruir por completo e outra que pode nos levar a felicidade verdadeiramente. Aquela é grande e bate a nossa porta todo o dia (fome de ter, de ser grande e poderoso desmedidamente). São muitas e não nos saciam verdadeiramente, mas podem até nos destruir. Porém, há fomes boas: de amor, de paz, de felicidade, de justiça...Estas nos levam para à Felicidade.

Se temos fome é porque precisamos de pão. Porém não é qualquer pão. O pão dos homens não sacia por completo. Como disse Felipe à Jesus: “Duzentos denários de pão não seriam suficientes para que cada um recebesse um pedaço” (Jo 6, 7). O pão que nos sacia é Jesus, “o pão vivo descido do céu”(Jo 6, 51), o Pão Sagrado. Deste modo podemos perceber que celebramos a Eucaristia porque Nela saciamos a nossa fome (Jo 6, 12) que nos faz feliz: a fome de Deus e do seu Reino.

É na Eucaristia que saciamos a nossa fome, pois em Jesus encontramos a mais profunda realização do projeto de Deus. E Ele está lá, na hóstia Consagrada, por amor inefável, se entregando e doando-se, dando a sua vida para nos dar a vida (Jo 6, 51). E de modo gratuito.  Aquele que se aproxima de Jesus Eucarístico e comunga-o pode ter a certeza, pela fé, que está buscando a sua felicidade verdadeira e se encontrando com quem nos ama mais que tudo. Um Deus encarnado, e que se fez pão, que tem um coração sempre disposto a perdoar e que quer estar conosco sempre, e que não quer perder a nenhum, e que não faz distinção de pessoas, mas ama a todos de modo igual e com verdadeiro amor. Como seria bom se O buscássemos sempre e motivássemos os outros a busca-lO, pois Ele não recusa a ninguém que O procura, mas quer salvar a todos.

Deste modo, Celebrar a Eucaristia é provar e experimentar pela fé de quem verdadeiramente nos ama e nos quer dar tudo para sermos felizes. Pois é deste modo, além de outros, que se atualiza todos os dias a entrega de Jesus por nós: pela Celebração da Eucaristia. Assim poderíamos repetir como o salmista: “Ao Senhor eu peço apenas uma coisa e é isto que eu desejo: habitar no santuário do Senhor por toda a minha vida; saborear a suavidade do Senhor e contemplá-lo no seu templo”(Sl 26).  

Deslumbrar a beleza do Cristo eucarístico é algo inigualável. Porém melhor e mais difícil ainda é fazer uma comunhão mais profunda e continuadora com o Cristo eucarístico semelhante à experiência dos apóstolos com Jesus. Os apóstolos que viveram, ouviram, comeram e beberam com Jesus, provaram de seu amor e no anuncio de sua presença , de seu Reino, tiveram que passar pela sua mesma sorte. Foram presos e proibidos de fazer caridade, (boas ações e falar de paz, esperança, justiça e libertação), pelos fariseus, saduceus e membros do sinédrio (At 5, 34-42), chegaram a ser assassinados (Atos 12, 2).

É estranho ver cristão que não passam pela cruz e que não buscam ser um outro Cristo, que não dão testemunho da verdade, da justiça, e não lutam pela paz e pela vida humana. Pois a Celebração Eucarística nos chama a ser outro Cristo na nossa realidade histórica. É estranho ver cristãos que não se importam com pessoas sendo mortas, abandonadas, injustiçadas, exploradas e oprimidas, quando Jesus morreu para dar nos a vida (Jo 6, 52),  não abandonou a nenhum dos que o Pai lhe deu (Jo 6, 37), fez justiça à mulher que iria ser apedrejada (Lc 7, 36-50), e denunciou os atos errados dos grandes e poderosos da época! É estranho ver Cristãos Católicos que pensam só eu si e esquecem dos outros, quando Jesus nos aconselha a olhar os outros e cuidar dos outros pobres, mendigos, presos, excluídos e desprezados (Mt 25, 34-46).

Eucaristia é partilha e nosso desafio é partilhar a vida para dar mais vida; Eucaristia é amor sem limites, e nosso desafio é fazer o mesmo que o mestre; Eucaristia é perdão de Deus para conosco, e nosso desafio é perdoar como o Pai nos perdoa; Eucaristia é paz, e nosso desafio é lutar pela paz no mundo; Eucaristia é vida, e nosso desafio é lutar pela vida, seja qual for, ou de quem for; Diante da Eucaristia somos todos iguais, nosso desafio é tratar os outros de forma igual (Somos irmãos e Filho do mesmo Pai); Eucaristia é dignidade humana pelo amor de Deus, nosso desafio é dar dignidade ao outro pelo mesmo amor divino; Eucaristia é união, e nós somos desafiados a ser unidos; Eucaristia é contrária à morte, à violência, à exploração, à divisão, à opressão, à injustiça, ao egoísmo, à luxuria, à vaidade, à superioridade, à prepotência, ao abuso, ao desrespeito, à qualquer tido de maldade contra a si e contra o próximo.

Por isso e muito mais a Eucaristia é o mais belo e perigoso seguimento de Cristo. Não podemos esquecer que somos chamados a ser outro Cristo por completo, pois para isso que Ele fez o que fez, para sermos sua imagem e semelhança. Essa experiência é antiga e atual, e exige de nós dar testemunho do ressuscitado. Se Cristo não vive em nós então ainda não entendemos o mistério que tanto celebramos cotidianamente. E Ainda não nos abrimos por completo para o verdadeiro, profundo, apaixonante e exigente significado da Eucaristia. Após a Celebração Eucarística começamos nossa missão, de ser sal e luz do mundo (Mt 5,13-16), de sermos templos vivos do Espirito Santo. Tal Santo Espírito não nega a o Filho de Deus, mas dá testemunho do Pai e do Filho. Que Deus nos ilumine para sermos continuadores de Jesus e nos der coragem para testemunhar tal mistério na vida.
   


quarta-feira, 6 de abril de 2016

Experiência verdadeira de e com Deus.

A experiência de Deus verdadeiramente é  uma das mais profundas, intensas e verdadeiras possíveis. Não tem como conhecer a Deus sem ser tocado pela sua Misericórdia. Pois Deus é Amor, e é sobre isso que vamos meditar hoje.

Em João (3,16) vemos que "Deus amou tanto o mundo". Quem já passou por uma experiência de amor, como a de uma mãe por um filho, pode compreender essas palavras, pois o mundo nunca foi condenado por Deus, mas amado. Todos os seres que existe no mundo são amado por Deus, pois tudo é fruto do seu amor, inclusive nós. 

É importante perceber isso porque mesmo que em qualquer situação que estejamos, pode ser a pior possível, Deus nunca deixa de nos amar. Então podemos por exemplo, pela experiência do amor familiar,, compreender como Deus nos ama. 

Mas não é de qualquer jeito e nem de qualquer forma. Deus nos ama e não é pouco, mas "tanto- tão infinitamente-, que deu o seu Filho único". Quando alguém dá alguma coisa de muito importante pra nós, e de modo gratuito, então podemos reconhecer o quanto que ela nos ama. Deus nos amou tanto, mas tanto, que nos deu o seu bem mais precioso: Jesus. 

Qual mãe ou Pai teria coragem de dar seu Filho Amado por amor?. Será que Deus nos ama pouco? Deus poderia nos dar qualquer coisa e resolver tudo de uma vez, num piscar de olhos, pois Ele pode, mas Ele quis nos dar parte Dele, o que era sua vida, o seu Filho Amado. Será que há algum Deus que nos amou mais escandalosamente do que Esse?! 

Podemos perguntar: porque Ele quis demonstrar tão transbordante amor? Ele nos responde: "para que todos os que nele crer não pereça - não morra-, mas tenha a vida eterna". A vida é o que Deus quer nos dar, e não só essa vida que passa e que recebemos gratuitamente, mas uma vida que não se esgota, não se acaba, uma vida eterna. 

Para quem está vivo não há mau pior neste mundo do que a morte. Quem passa próximo dela sabe o quanto é bom estar vivo e viver. Deus nos ama tanto que não se contenta em nos amar só por um instante- em quanto nos dá esse pequeno e breve momento de vida e consciência- mas para todo o sempre, porque eterno é seu amor por nós. É incrível ver alguém que nos quer tanto bem, nos quer tão feliz, nos ama tanto  e nos deseja tanto como Deus. 

Se Deus por amor nos enviou seu Filho Ele não fez por raiva ou para nos afastarmos de sua presença e nem para nos condenar. "Deus não enviou seu Filho para jugar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele"(Jo3, 17). 

Nunca a pretensão de Cristo foi nos condenar, apesar de que muitas vezes achamos ilusoriamente que Deus está nos condenando com as situações difíceis da vida ou com nossos próprios erros e pecados. Mas Deus não nos condena, Ele nos ama e nos chama para Si. 

É triste ver pessoas que jugam, condenam as outras- e isso não acontece pouco- quando na verdade Deus não condena, mas pelo contrário, quer fazer tudo o que pode seu amor para nos salvar. Quantas vezes desistimos dos outros, principalmente quando eles não têm nada para nos dar, ou não nos ajudam. As empresas fazem assim, o mercado faz assim, muitas vezes nossas relações são assim, mas Deus não é assim, seu caminho não é esse. 

Deus nunca quer abandonar ou desprezar ninguém, mas até o último sopro de nossa vida, como o bom ladrão, Ele quer nos salvar. Que possamos confiar, guardar no coração, desejar, buscar, o que Ele nos diz, a sua palavra, a sua pessoa humana e divina. Basta darmos crédito à Jesus: "quem nele crê, não é julgado, quem não crer, já estar julgado, porque não creu no Nome do Filho único de Deus"(Jo 3, 18). 

A questão fundamental está em nos abrirmos para Deus, dar crédito a Ele, confiar e Deixar ser amado (a) por Ele e amá-lo com todo o nosso coração, com toda a nossa alma, com todo o nosso entendimento, com toda a nossa força. As consequências desse amor verdadeiro divino e experiencial é amar o outro com os olhos de Deus. Pois se Deus é amor e nos abrimos pra Ele não tem como não amar a si mesmo e ao nosso semelhante. 

Daí, um coisa que Deus não faz, mesmo que Ele nos deseje todo dia, é nos obrigar a buscá-lo, a amá-lo e a seguí-lo. É de nossa liberdade dizer "sim" todo dia a Deus e pelo seu Filho na consolação de seu Espírito. Quem não busca esse caminho de vida, amor e salvação já demonstra que não busca a Deus, que está fechado, como os fariseus e saduceus, à uma correspondência de coração e verdadeira. Por isso João (3,19-20) afirma que: "a luz veio ao mundo, mas os homens preferiram as trevas à luz, porque suas obras eram más. Pois quem faz o mal odeia a luz e não vem para a luz, para que suas obras não sejam demonstradas como culpáveis". 

Nosso desafio cotidiano é acolher a Deus, acolher a sua luz, corresponder com generosidade ao seu amor e ser sinal de luz e não de trevas, de vida e não de morte, de Amor e não de ódio, de paz e não de violência, de perdão e não de rancor, de salvação e não de condenação ou maldição,  de verdade e não de mentira, pois "quem pratica a verdade vem para a luz, para que se manifeste que suas obras são feitas em Deus"(Jo3,21) 

Que não percamos a esperança em Deus, no seu amor, na sua misericórdia, pois Ele nos quer para junto de Si, mesmo que tenhamos dificuldades para o amar e seguir. 

domingo, 3 de abril de 2016

O desvelar de um novo horizonte da (e para a) vida: ver para crer e crer para ver.

No ritmo frenético da vida, na prática habitual, costumeira e repetitiva da existência somos convidados a tentar diminuir a velocidade do carro da vida, tentar dar uma paradinha básica, necessária, e olhar de um modo novo, renovado, sobre o que já vivemos e passamos, a nossa história. Também é importante, nesse momento de pit stop, adquirir uma expectativa positiva sobre o que estar por vir.
É uma oportunidade de se rever e trazer consciente na memória àquilo que nos marcou, nos seus autos e baixos (de bom e ruim), mas que foram importantes na nossa experiência de vida e maturidade. Nessa rememoração somos chamados o olhar de modo bastante intimo, e bem juntinho, a nossa experiência com Deus, que não está separada da nossa vida.
É o encontro conosco e com o ressuscitado que aparece no meio de nós, ou seja, na nossa história, nas coisas pequenas e boas que nos aconteceram, e nos deseja a paz (Jo 20,19)! Os sinais de tal caminho são marcados pela presença de fé, caridade, esperança e alegria como podemos observar na expectativa das primeiras comunidades (At 5,12-16). Esse olhar alegre deve nos contagiar e fazer-nos identificar-se com o salmista quando diz: “Pelo Senhor é que foi feito tudo isso: que maravilhas ele fez a nossos olhos! Este é o dia que o Senhor fez para nós, alegremo-nos e nele exultemos! (Sl 117)
Nesse encontro também precisamos olhar as coisas ruins, as não agradáveis e não tão bem acolhida por nós, aquelas que nos marcaram negativamente, mas que também fizeram parte de nossa vida e que de certo modo nos ajudaram a amadurecer. Somos convidados a perceber que ai também o ressuscitado estava, pois é também nas nossas dores, pecados e fraquezas que o ressuscitado nos aparece assim como Ele apareceu aos discípulos e mostrou-lhes as mãos e o lado, ou seja, as marcas dolorosas de sua presença na história (Jo 20, 20). Na intimidade com Jesus, encontrar as marcas das nossas chagas, pois também carregamos nossas cruzes, é muito importante. Deste modo podemos perceber que não somos fantasmas, insensíveis, e que não caminhamos com um fantasma ou insensível, mas com um homem (ou Filho do homem, ou Filho de Deus), que ressuscitou sem deixar a História.
Essa experiência de olhar para si e encontrar, em nossa força e fraqueza (alegria e tristeza; esperança e desalento; consolo e desolação), a presença e marcas de Jesus ressuscitado, nos ajuda a deslumbrar nosso primeiro horizonte histórico: ver pela luz divina a nossa história, e crer que Jesus está em nosso meio.
Depois de ver e crer que Jesus está conosco, outro momento de singular importância precisa ser apreciado por nós: crer para ver. É olhar o futuro sem ter nenhuma certeza, pois não está pré-determinado por Deus e muito menos por nós. O amanhã a Deus pertence: essa é nossa esperança. Esse é o salto da fé: acreditar no que não se ver. Dar crédito, confiar e esperar.Não parado, mas andando.
Quando não temos certeza para o que estar por vir então ficamos com medo. É uma prova que precisamos fazer, é uma entrevista de emprego, é uma escolha incerta, é uma decisão séria e delicada a ser tomada. Nesses momentos bate e nós a insegurança, o medo, a falta de chão. Então ficamos como Tomé: “Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos e não puser a mão no seu lado, não acreditarei”(Jo 20, 25).
Diante de tal situação precisamos confiar e esperar, e até pedir como fez o salmista: “Ó Senhor, dai-nos a vossa salvação, ó Senhor, dai-nos também prosperidade!” (Sl 117). Nosso Senhor nos chama a atenção: “não sejas incrédulo, mas fiel”(Jo 20, 27). Precisamos colocar nossa esperança em Deus, pois se Deus é por nós que será contra nós?. Vamos dar crédito às palavras de Jesus quando diz: “Não tenhas medo. Eu sou o Primeiro e o Último, aquele que vive. Estive morto, mas agora estou vivo para sempre. Eu tenho a chave da morte e da região dos mortos” (Jo1, 17-18).
Aos poucos vamos percebemos que o ressuscitado não nos abandona. Mas caminha conosco e que quer ser nosso guia para o céu. Ele chega até a se manifestar na nossa vida, nas coisas simples e pequenas. Mas só poderemos ver e experienciar tais coisas se acreditarmos por primeiro, de coração aberto. Tenhamos fé, esperança, caridade e alegria. E vamos caminhando juntos como disse Paulo: “companheiro na tribulação, e também no reino e na perseverança em Jesus”(Jo 1, 9). Eis nosso desafio: ver com a luz do ressuscitado sua presença e nossa história e deslumbrar o que estar por vir, na esperança em Deus e seu Filho. Que digamos como o salmista: “Que o Senhor e nosso Deus nos ilumine!”(Sl 117).

sábado, 2 de abril de 2016

Experiência com Deus: um grito de Homens e Mulheres pela Dignidade e Salvação.

    Na historia da humanidade e na vida de intimidade e experiência com Deus,  os desprezados, abandonados e esquecidos sempre passaram por diversas repressões e preconceitos, seja de seus mais próximos, seja de quem detém grande poder e quer dominar a todos, ou seja das limitações e mentalidades da cultura de cada época.

    Falamos aqui de Homens e Mulheres de boa vontade e coração humano que na experiência com Deus passaram e ainda passam por grandes desafios, pois são ameaçados e obrigados a se calarem (At 4,17-18) e a não seguirem o Mestre e muito menos buscar o seu Reino e sua vontade. Essas pessoas são impedidas de resguardar a dignidade humana e a salvação da humanidade. 

    Lembremos das mulheres  e homens do cotidiano da vida que, como Ana, Abraão, Maria de Nazaré e José, Isabel e Zacarias, Maria Madalena e Pedro,  Madre Tereza de Calcutá e Francisco de Assis. Ir Dorote e Pe. Cícero..., são chamada(o)s ou com palavras ou com a própria vida a não calar a voz e continuar a trilhar e anunciar o caminho da felicidade e salvação, mesmo diante de tantos desafios. 

    Apesar de muitos lutadora(e)s do cotidiano não serem reconhecida(o)s e valorizada(o)s, e muitas vezes estarem no anonimato da descritiva história atual (como as mães, as profissionais do dia à dia, as irmãs de cláusulas e as que lutam contra qualquer injustiça humana), todos somos chamados pelo próprio Jesus a sermos sal e luz da vida, a anunciar um tempo de graça, um tempo de misericórdia e justiça, em que dizemos com Jesus: sim à vida, à dignidade, ao amor, à salvação; e não à morte, aos assassinatos, à corrupção, às injustiças. 

    Uma das coisas que precisamos levar em extrema conta em nossa vida e desafios é a experiência profunda com Deus, pois é essa união verdadeira que nos faz dizer: "não podemos calar sobre o que vimos e ouvimos"(At4,20), sobre a justiça e misericórdia de Deus que se realizar por primeiro na nossa história e decisões.

   Com certeza somos provados e reprimidos ou pressionados para fugir e desistir da Cruz, mas vamos nos orientar pela voz do salmista que diz que o Senhor não nos abandonou a morte (Sl117), mas tornou-se para nós a razão de viver, de lutar e de salvação.

    É o próprio Ressuscitado que nos aparece e nos chama a tão grande e difícil missão. Para anunciar que Ele está conosco, que não se esqueceu de nós e que caminha junto a nós na partilha da vida, na ação de misericórdia, no alimento pelo pão de cada dia, espiritual e social, na inclusão dos dispersos e esquecidos, pois, estes também são os prediletos de Deus, e os que precisam ser salvos e redimidos pelas mãos de Deus e pela nossa, sendo que os últimos, desprezados, esquecidos, abandonados, estão em tal estado que não há ninguém, a não ser Deus, por eles. Por isso Deus nos chama e continua chamando, porque sua misericórdia é eterna.

sexta-feira, 1 de abril de 2016

História: lugar para a Misericórdia.

 
  Quando estudamos a História humana nos deparamos com diversos modos de interpretá-la e diversos modos de compreendê-la.
   E entre as diversas formas de análises (crítica, descritiva, filosófica, poética...) e recortes (Pré-história, Antiga, Medieval, Renascentista, Moderna, Contemporânea,...) considero um modo particular de ver a História como: lugar de encontros e desencontros, de acertos e erros, de alegrias e tristezas, conquistas e derrotas, de tempo  pra tudo e, na correria, tempo pra nada, de ser livre pra fazer sua história e estar prezo ao que a história nos deu como condição de vida. 
   Parece-me mais coerente observar a vida humana deste modo. E é nesse percurso que gosto de sentir na pele e no coração a vida humana como: misericórdia ou rejeição desta, sendo que as duas coisas transitam na nossa existência e marcam a nossa vida e felicidade.
   Essas duas coisas estão em nossas mãos, em nossas escolhas, porém estou convencido de que precisamos seguir um norte humano e até espiritual: sede misericordioso como vosso Pai é misericordioso.
      As marcas da misericórdia estão em nossas vidas. O dom da existência, o pão de cada dia, a união familiar e conjugal, a amizade e a fraternidade, ou o que também chamamos de boas e saudáveis relações humanas. O que é isso de tão valioso e bom, como Deus é bom, se não a misericórdia?!
      É verdadeiro e maravilho aos olhos humanos essas palavras do salmista que experiencia Deus pela misericórdia: Dai graças ao Senhor porque ele é bom! Eterna é a sua misericórdia! A casa de Israel agora o diga: Eterna é sua misericórdia.. (Sl l17). O que seria de nós se nossos amigos, companheiros e familiares não fossem misericordiosos diante de nossas limitações e raivas, agressões singelas e desgosto, ou insatisfações?.
    A misericórdia nos uni e nos diz que é possível ser feliz, que temos mais uma chance e que nascemos para a vida e não para a morte, para a paz e não para a perturbação, para o respeito e cuidado, e não para o desrespeito e arrogância, ou agressão, para a verdade que nos tornam autênticos e humanos, e não para a mentira e para projetos egoístas e solitários.
      A experiência da misericórdia foi a que o paralítico  (At 4,1-12) teve ao ser curado. Temos todos os dias experiência de misericórdia. Estamos vivos, Deus levanta o Sol para todos e não caminhamos só. Porém pode acontecer de recusamos a misericórdia como fizeram os, aparentes, donos do poder religioso, proprietário da fé e da doutrina da época de Jesus (Sacerdotes, guardas do templo, saduceus).
      Quando fechamos o coração para misericórdia de Deus e para misericórdia com o próximo então erramos e sofremos muito. Isso acontece quando não acolhemos a nossa história, a nossa família, os nossos amigos e as pessoas que passam na nossa vida. Quando deixamos de sonhar, de ser esperança para os outros. Quando desistimos dos que nos dão trabalho e preocupações, quando não respeitamos as diferenças, quando não perdoamos e nem amamos. Quando não fazemos o bem e não permitimos que os outros o façam.
      Atitudes contrárias à misericórdia, esta pedra fundamental, são atitudes de rejeição. "A pedra que os pedreiros rejeitaram tornou-se agora a pedra angular"(Sl l17). É pela misericórdia de Deus que tudo foi feito. É pela misericórdia divina que Deus, na pessoa de Jesus veio redimir a História, porque convida todos nós a sermos misericordiosos.
   Na nossa trajetória humana muitas vezes ficamos nessa dinâmica de rumos contrários, ora acolhendo a misericórdia de Deus e dos homens, e também sendo misericórdia; ora desprezando a misericórdia de Deus, dos homens e não sendo misericórdia.
   Porém, a Misericórdia personificada, Jesus Cristo, sempre vai aparecer em nossa vida, nos convidando para comungar, fazer comunhão consigo, de modo semelhante como Ele fez e apareceu aos que ele amava (Jo2, 11-14). Que nossa história seja de misericórdia e não de rejeição para com esta, pois só pela misericórdia temos verdadeira vida.